terça-feira, 30 de março de 2010

Filosofia no Brasil

Resta à filosofia, para que ela possua um lugar efetivo na história do nosso país, começar a trabalhar junto à história e à literatura. Cabe a ela um trabalho um tanto quanto arqueológico, de escavar e revelar os hábitos, os costumes, os pensamentos do povo brasileiro ao longo de sua história. Dir-se-á que a Sociologia ou a Antropologia e a própria História já fazem isso. Verdade. Mas ninguém melhor do que a filosofia para trazer à tona uma generalidade sobre as concepções de ética, moral, política que vigoraram nesse país, e de que forma elas podem ser pensadas hoje, na medida em que podem ou não se manter até os dias atuais.
A filosofia precisa, no Brasil, assumir o papel crítico que sempre foi característico da filosofia. Manter as verdades em suspenso. Analisar não se os jovens da periferia vêm se agrupando em movimentos culturais, mas pelo que eles vem se agrupando, e o que isso significa num contexto cultural amplo, e qual o significado que pode estar subjacente a isso.
A filosofia não deve se ater à exegese e à hermenêutica de filósofos antigos, como tem feito até agora. Ela deve citar, comentar. Não se curvar. Manter em constante atividade o pensar sobre a nossa realidade. Sistematizar de que forma algumas características históricas se desenvolveram; o que elas significam. Como, por exemplo, ainda hoje somos incapazes de diferenciar espaço público e privado?
Neste sentido, vemos que já´possuímos obras filosóficas magnas em nosso pensamento: Casa Grande & Senzala, Raízes do Brasil, Macunaíma, Grandes Sertões: Veredas.
O filósofo de uma filosofia brasileira tem uma tarefa árdua. Não deixar morrer as velhas obras e ao mesmo tempo trazer à tona o que há de mais nosso, de mais necessário e, atualmente, de mais escondido na cabeça do brasileiro.

segunda-feira, 29 de março de 2010

O Saber da música

As coisas se invertem. Hoje se tem na classe média, o reduto trágico do samba, a idéia de que os sambistas nos dão um certo savoir-vivre; de que é a própria música qe transmite-nos saberes antigos. Quando a verdade é o oposto. Os sambistas não aprendiam a viver pela música. Esta era meramente consequência de já se saber viver.
A idéia de que hoje viver o samba é possível, é ilusória. Não se pode reviver o fruto de uma realidade social que há tempos deixou de existir. É por isso que a tentativa de fazer resurgir a "verdadeira música popular" é tola. O que passou, passou. É necessário conhecer a história, e preservá-la, mas com a consciência de que não se pode revivê-la. O caso da música é só um exemplo dos modos como tratamos a cultura: seja ela nossa ou não. O discurso não condiz com as realidades sociais.

domingo, 28 de março de 2010

E?

E daí que o tempo passa?
E daí que as vidas vão?
Que me importa se chorei?
Que me importa ter rido?

E se não vivesse?
E se não morresse?
E se não sentisse?
E se desaparecesse?

Que me importam os amores?
Que me importam os amigos?
E daí que me beijaram?
E daí que me apoiaram?

E se eu vivesse?
E se eu morresse?
E se eu sentisse?
E se eu aparecesse?

E daí?

E se eu não vivesse?

E se eu não fosse feliz?

E daí?

E aí?

E?

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ennui

Hoje eu entendi duas coisas: a primeira é: o que eu venho sentindo; a segunda é: o significado do que eu venho sentido.
Eu finalemtne entendi o que os franceses querem dizer com Ennui. Não dá pra explicar... mas peguei o jeito do negócio... é maçante...

quinta-feira, 25 de março de 2010

Os Anos de Aprendizagem

Muitos podem considerar esse post presunçoso ou arrogante. Quem me conhece sabe que me ponho longe disso ao dizer que vejo, numa síntese de coisas que escrevi até agora, que tudo que tenho dito, não é mais do que uma exposição dos meus anos de aprendizagem. Percebo o que significa se tornar um homem. Viver e assumir todos os passos da minha existência, tentando dar vazão ao que há de mais lúdico em mim, de mais corporal, mais íntimo.
Parece tolice dar a esse post um título de uma obra magna de Goethe. Mas o fiz exatamente porque percebo de que forma a arte me resume não só como personalidade, mas como base de uma práxis.
Meu anos de aprendizagem. Cheios de erros estúpidos. Cheio de um coração ferido tantas vezes. Cheio de raiva. Mas cheio de algo que não posso trocar. Cheio de mim! Cheio de uma coisa sem nome. Porque no fundo, há em nós uma coisa que não tem nome e é isso que somos!

Para Mulheres

Retornem ao post "Para Homens" e leiam-no, mulheres, com atenção. O sentido daquilo é:
Quando um homem diz não querer mais amar ninguém, a verdade de seu coração é o exato oposto.
Não nos tirem isso. Nos dêem essa chance. Não se assustem com correrias ou aparentes descasos.
Os homens são burros. Conhecem seu próprio coração. Mas não sabem como usar o cérebro.

terça-feira, 23 de março de 2010

Esboço de ética pessoal

Todos nós somos bombardeados por pessoas novas. A cada noite no bar, a cada festa na casa de um amigo. Ainda assim, conhecer gente nova é muitas vezes uma ferramenta que nos serve de consolo: é bom ter alguém de quem falar mal; alguém com o qual "não fomos com a cara"; alguém que disse alguma besteira. No entanto, há sempre o perigo imanente de um em-si sem fim. Nos fechamos, tememos que alguém nos machuque, e acabamos retornando à velha questão de pensarmos só em nós.
Sei que é clichê dizer que as pessoas só em pensam em si mesmas, que só visam a satisfação momentanea e absoluta de seus desejos. Mas dizer isso é tão clichê quanto é clichê esse tipo de comportamento. Eu sei que vivemos numa sociedade que dá vazão às nossa pulsões mais destrutivas. Os tempos fazem com que o princípio de prazer e o de realidade se enfrentem de uma forma nunca antes vista.
Somos desiludidos, não vemos saídas para nossos problemas e, uma vez que nada nos impele a trocar experiências reais, somo sincapazes de nos colocarmos no lugar dos outros, achando que nosso problemas são maiores. Isso dá origem aos pobres depressivos que todos nós conhecemos.
Eu, no entanto, não posso ser assim. Passei muito tempo temendo me entregar, temendo viver do jeito que sou. Mas eu sou assim. E não mudo. Não me rendo. Não viverei na contramão só por achar o cotidiano todo errado. Viverei experimentando. Numa metamorfose constante. Sem perder de vista que eu sou. E não me dobrarei às redes que com todas as forças, me impelem ao ceticismo e à tristeza.
Tudo de mim será sincero. Tudo meu será uma força que me impele ao outro. Tenho os olhos e os braços bem abertos. Acertem-me com inúmeras flechas! Quero sentí-las bem fundas!
"Não levarei nenhum arrependimento, nem o peso da hipocrisia."

Do Escrever

Escrever é algo, para mim, muito complicado. Não consigo simplesmente sentar-me, pensar em algum assunto e escrever. É algo que leva tempo, embora o tempo em que eu seja capaz de organizar minhas idéias seja um tempo muito fulgaz. As idéias vêm e vão num lampejo e na verdade, muito do resultado final do texto é apenas uma parcela do que eu havia pensado.
Não obstante, o escrever, assim como o cantar, é um grande refúgio.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Teclas

O Piano, por sinal, é um instrumento do qual muito pode ser dito. O Violão, dizem, é sensual, deve-se tocar violão como se faz amor. E é verdade. Qualquer guitarrista sabe disso. O Violão é nossa maior amante. Suas curvas femininas não nos enganam. Quando tangemos suas cordas é como se tocássemos o corpo suave de uma mulher.E tal qual quando se faz amor, há momentos delicados e outros fortes, violentos até.
O Piano, por outro lado, eu já não consigo ver como algo erótico. Na verdade, como algo "só" erótico. O Piano é a expressão de todos os sentimentos e não só da paixão. A técnica de conseguir acertar, uma a uma, todas aquelas teclas, é diretamente correlata à dificuldade de agirmos. Os dedos por vezes se entrecruzam, se batem, deslizam um meio tom, fraquejam. Só se consegue a quase perfeição com muita concentração e estudo. Concentração, por sinal, introspectiva, correlata ao estudo filosófico, ao olhar crítico.
Talvez eu esteja subestimando o Violão. Não é isso. ele requer o mesmo tipo de estudo, a mesma auto-reflexão. Mas o Piano é, para mim, a expressão mais Absoluta do que a Música pode significar particularmente. Não que só o Piano baste, longe disso, ou que só peças clássicas de Piano são músicas de verdade. A questão é outra. É uma questão de percepção... de que esse talvez seja o instrumento mais sincero. Pois as coisas falam conosco.
Há uma certa verdade no Piano; esse instrumento misto do tradicional e do moderno, que emprega técnicas de engenharia altamente rebuscadas, mas que não existe sem a mão do homem, de vários homens. Verdade essa que só se deixa sentir, que se desenvolve no enredo de uma melodia bem executada - e para ser bem executada, ela não deve ser perfeita, pois se torna mecânica - executada com a alma, verdade que vem da perfeita comunhão entre os dedos, as teclas e a visão do pianista sobre o instrumento. Verdade que vem à tona com toda a intensidade dos sentimentos reais e das emoções da vida humana. A raiva, no socar das teclas; o amor, na carícia gentil; a paixão, na rapidez frenética; a tristeza, na languidez e na postura dos pulsos.
E sobretudo, há aquela Beleza, que é um averdade, na junção de todos esses elementos. Uma boa música parece Bela quando vemos as mãos executá-las.

Tempo

Hoje, eu me dei tempo para não me preocupar. Para não saber se estou fazendo algum erro, ou melhor, para não temer fazer algo de errado. Não consigo mais suportar a idéia de que o tempo é curto demais para as coisas darem certo. Eu sei que o tempo é cada vez menor, cada vez mais fugaz, intangível, imperceptível. Mas correr com medo só o faz mais assutador ainda.
Agora, quando eu correr, será com o tempo e não mais contra ele.
Você já perceberam como o tempo muda quando ouvimos música? Quando as teclas de um piano batem fortemente reverberando as janelas de vidro de um recinto?
O tempo deve ser pensado assim: a toque de música. Quantas coisas não sentimos no intervalo de 6 ou 7 minutos da mais pura melodia? Pois é assim que deve ser. Toda a eternidade fulgurar num fugaz instante.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Amigos

Um amigo é algo que não se explica, mas se sente, se quer e se sente querer.
Eu tenho muitos amigos, mas poucos deles são amigos...

Verdade, beleza...

É tradição na Filosofia, dizer que a Verdade é Bela e que a Beleza é, também, Verdade.
Pois eu acredito na segunda afirmação. No que me concerne à Verdade, no entanto, eu a vejo Sublime...

segunda-feira, 15 de março de 2010

Águas Passadas

Águas passadas não movem moinhos, fato. Não quero, na verdade, discutir águas passadas, só retomar um pouco algo que eu já disse numa de minhas postagens. Disse coisas bem duras sobre pessoas boazinhas e pessoas que não sabem o que seja a verdadeira amizade. Quis dizer que não confio naqueles que se reprimem, no caso dos bonzinhos, e naqueles que se satisfazem à custa dos outros, que não sabem valorizar algo que perpassa qualque moral e entendimento: a amizade. Pensei em Nietzsche.

Andar

Andar, é a arte de perder-se.
É a arte de encontrar,
E não encontrando,
emudescer-se.

Andar, é a arte do olhar.
É uma forma de perceber
E assim caminhando,
não querer parar.

Andar, é também poder ver,
é andando à rumar,
que se acha um caminho.

Andar, é sentir sem saber,
pois andando num mar
Sei não estar sozinho.

Freudiana

O Superego atual é a sociedade. É ela que nos coíbe, nos oprime. Antes, levavamos os hábitos adquiridos em casa para o mundo exterior. Hoje, são os hábitos que adiquirimos nas ruas que arrastamos para nossas casas. É muito mais o medo da desaprovação numa mesa de bar do que da desaprovação à mesa de jantar que nos faz agir de acorod com certas normas ou padrões.

domingo, 14 de março de 2010

Vivência... e não Experiência

Expliquem logo o que acontece, o que se tornou nossa cultura, nosso dia-a-dia? Porque a cultura não é senão isso, a manifestação amterial como resultado de como nós nos entendemos no mundo.
Diz-se que os habitantes do século XIX sonhavam com a realidade, porque despertos, não davam conta dela. A realidade se-lhes-escapava como um clarão e isso era expressão da total alienação do homem frente algo que ele mesmo produziu: os costumes, o desejo de transportar a segurança de sua casa para as ruas, as novidades tecnológicas.
Se isso é verdade, o que temos hoje é bem pior. Hoje, estamos satisfeitos. Hoje já não há nem como perceber o que nos é expropriado. Hoje, sonhar com a própria vida é expressão de nosso fechamento, de nossa incapacidade de nos reconhecermos em alguém. Sonhamos com nossa própria unidimensionalidade. E a achamos bela, satisfatória. Esse é o mando dos dias: satisfazer-se.
Apoiamo-nos em culturas e tradições que sequer sabemos de onde vem, pois só elas parecem trazer alguma resposta, fazendo parte de nossa família ou de nosso círculos de itneresses. Apoiamo-nos na mediocrização de uma cultura ideológica; desrespeitamos a história; reescrevemos-a sem combatê-la. No fundo, ela nos é indiferente.
Qualquer história deve enfrentar a questão de como ela foi escrita e a nossa sofre a pior das coisas: uma inversão de sinais.
Quase nada, quase nada, nos convida a continuar, a não ser que aceitemos a ignorância, a não ser que queiramos nos "satisfazer". Quase nada nos identifica, somos indivíduos sociais de culturas diferentes. Mas há algo que deve-se ter em mente: o fato de que Karamazov aprendeu a continuar a continuar...
Insatisfaçamo-nos, pois... ainda há tempo.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Os corpos

Uma mulher estende os braços aos céus. Os seios perfeitos mal se movem. Não se vê seu rosto. Ela é linda mesmo assim... seu corpo tem proporções perfeitas; medidas conformes.


Entendo porque um professor alemão da Universidade da Califórnia disse sentir nojo da saúde e da beleza por ter crescido na Alemanha Nazista. A ditadura da moda que sofremos, e a busca incessante de um corpo perfeito, reflete a mesma ideologia. A questão é que os ideólogos de hoje talvez não se saibam ideólogos e aí mora o perigo. Não chego ao ponto de dizer que também eu sinto nojo da beleza e da saúde. Mas o medo, sim, existe. Medo de saber até que ponto a paranóia da beleza pode chegar.


Essa foto poderia ser atual, de alguma revista masculina. Mas é uma foto de propaganda do Terceiro Reich, divulgando a beleza da raça superior. Betty Paige, coitada, que morreu evangélica e reclusa, serviu aos mesmos propósitos no outro lado do Atlântico: mostrar o que a América tem a oferecer. Neste vai-e-vem de fotos e erotizações pornográficas, transformou-se o corpo feminino em objeto e a sexualidade numa satisfação egoísta. O que se vê, é uma imagem do Ideal, de como as coisas deveriam ser. O peso de perceber que a realidade não condiz com isso, é insuportável. A ditadura que sofremos sobre nossos corpos e nossa moda é o que há de mais autoritário.

domingo, 7 de março de 2010

Brasil...


"O pensamento de toda propriedade privada enquanto tal volta-se, pelo menos, cotnra a propriedade privada mais rica como inveja e desejo de nivelação, de maneira que estes constituem até a essência da concorrência. O comunista grosseira é apenas o acabamento desta inveja e desta nivelação, partindo de um mínimo representado. Tem uma medida determinada e limitada". MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. In: Os Pensadores. tradução de José Carlos Bruni. São Paulo: Abril Cultural, 1978.


Ao ler isso, entendi de onde vêm a mentalidade pífia e a ideologia corrente da esquerda brasileira.


Há que se reconhecer... Titio Karl tem muito a falar ainda, idependentemente das possíveis críticas (críticas verdadeiras, obviamente).

Do Poder - Of Power

Os tiranos, ditadores, autoritários e toda essa corja, no fundo, não me incomodam.

O PODER É ALGO MUITO PEQUENO!

"The tyrans, dictators, authoritarians and all their kin, deep down, dont annoy me

POWER IS SOMETHING WAY TOO SMALL!"

Fulgor

Meus pensamentos, ainda inconsistentes, são preceitos, indicações, caminhos. É uma tentativa de enxergar na grande metrópole do pensamento ordenado e calculado uma mata selvagem. São os estímulos anteriores ao despertar, que aprofundam ainda mais o sono. Assim que eu despertar, todo meu esforço será para entender a memória ainda não-consciente dos fatos passados; será uma tentativa de compreender o que diziam-me meus próprios sonhos.

sábado, 6 de março de 2010

Da Diferença

A pessoa mais inteligente de minha geração que eu conheço, me dizia ontem mesmo sobre a questão da Diferença em Deleuze.
A Diferença, disse-me ele, é algo que resta conceituar, ou melhor, se entendi bem, é algo a que conceito algum consegue acessar. É aquilo que, no Ser, é inominável (seria como o estofo para Merleau-Ponty?), a diferença é incompreensível e, se aparentemente, ela foi compreensível, foi porque foi sempre interpretada a partir do semelhante. Ledo engano.
Isso me levou a pensar...
A diferença deveria ser aquilo pelo qual o Ser anseia. Quiçá seja, mas um certo Ser social (seguramente essa categoria não existe em Deleuze), impele-nos a buscar sempre pelo semelhante...
Ao inferno com isso.. Eu (aquele eu de carne e osso de Unamuno), quero a diferença!
Dynamis, hybris!