sexta-feira, 30 de abril de 2010

Correção

Foucault considerou o corpo um lugar de utopias. Ele está certo. A pergunta é: qual corpo?
Eu só consigo ver utopia quando o meu corpo encontra o seu. É no contato afetivo mais carnal que meu corpo perde os limites.
O seu corpo é minha utopia!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Paris


Ah.. Paris. A "Cidade Luz"...




É difícil dizer o que vivi em Paris. Tudo ainda é muito recente e demoramos sempre a assimilar muitas coisas. Foi intenso. Foi rápido. Foi demorado. Longos promenades. Me senti um pouco como Rousseau. Paris, ainda que estressante e irritante, fedida, suja, te convida a pensar. E eu pensei. Pensei na família, nos amigos - especialmente em 3 deles - nas coisas que eu tenho feito. Percebi que melhorei em algo que sempre achei ruim em mim mesmo: a incapacidade de pensar nos outros. Pensei em como certas pessoas são importantes para mim, em como eu preciso de algumas delas não por necessidade, mas simplesmente porque eu as amo mais do que eu pensava.




Mas sobre Paris... bem. Paris é fedida. O metrô cheira a urina. É uma cidade linda, claro. Mas burguesa, superficial. Tudo é consumo. Tudo é aparência. Não bate um coração. Paris é um circo de satisfação. Encontra-se o que se quiser e há sempre algo novo esperando para ser consumido por você.




E o orgulho francês? Orgulhinho quase fascista - senão completamente fascista - similar ao dos italianos que se gabam de falarem com as mãos e pensar se vestirem bem. Todo monumento em Paris é pela honra e a glória da nação francesa. Chegam ao ponto de acreditar que a liberdade do mundo está intimamente ligada à liberdade da França!




Os parisienses, por sua vez... bem... não fi mal-tratado por nenhum. Não posso concordar com os que dizem que os parisienses são estúpidos. Todos foram muito solicitos. Mas ao mesmo tempo andam com o nariz um pouco arrebitado demais. Paris e os parisienses são demodês. Assim como a burguesia. Aquela coisa de sentar no café e fumar um cigarro fazendo pose acho que já devia ser fora de moda em 68.




Mas sim, Paris é lindo, a noite é intensa, eles sabem vender seus peixes. A Torre nos tira o fôlego. O Arco e principalmente o túmulo ao soldado desconhecido, são emocionantes. Só em Paris eu pude ver o molde das mãos de Chopin, bem como o piano em que ele compunha, na exposição dedicada a seu bicentenário. Com certeza o momento mais emocionante de minha estada em Paris. Não conseguia conter as lágrimas ao ouvir seus noturnos e ler suas cartas e partituras.




Só Paris me fez ver que ainda existem paixões possíveis e utópicas. Que há mulheres ainda capazes de me emocionarem, de me conquistarem em uma noite (ironicamente não era francesa). Mas isso tudo foi possível só em Paris. Foi possível ver a riqueza de um país desenvolvido e ainda assim ver a pobreza. Foi possível pensar coisas melhores para este país em que eu vivo, não por ter visto modelos, mas por ter visto uma gama de possibilidades. Aprendi a dar valor a coisas de São Paulo que antes me irritavam. Voltei uma outra pessoa. Um pouco triste, pois vislumbrei uma outra vida que poderia ter sido, ou que talvez possa ser no futuro. Não necessariamente melhor, mas diferente.




Por hoje, é tudo

terça-feira, 13 de abril de 2010

O que me esperará?

Quem diria... em dois dias, estarei eu em Paris.
Na companhia de uma cara amiga, não quero a Paris da Torre Eifell ou do Arco do Triunfo, somente. Quero a Paris das barricadas, de Baudelaire, de Hugo, de Chopin, que me faz chorar. Paris dos terrores, das Passagens. Quero Paris tsigane. Quero descobrir a PAris dos não-turistas, óbvio, mas não quero conhecê-la como um local e sim como um estrangeiro. Quero ser um estranho; quero ser o diferente. Quero ver Paris mediado pelos meu olhos brasileiros, mas sem um rogo à nacionalidade alguma.
Depois de Paris, Londres. Aquele centro de civilização. Londres misteriosa, Londres das multidões, tal qual Poe a descreveu; Londres de subúrbios; Royal London. Ver a terra daqueles que 150 anos antes dos franceses decapitaram um rei. Londres ébria; terra de cervejas; de mulheres de belas pernas; cidade do rúgby, do Arsenal. Cidade em que Marx morou e morreu, em que Engels escreveu su aprimeira grande obra. Cidade tão cara à Schopenhauer; cidade adotiva de Wittgenstein, cidade de Russel. Ó! Como espero conhecer de vez esse lugar tão único, com cuja gente só tive boas vivências. Gente franca e de caráter reto.
O que me esperará?

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Uma do Roberto

Não sou fã de Roberto Carlos, mas há uma música sua que eu realmente acredito que tenha algo a dizer. Na voz de Caetano Veloso ou de Gal Costa, mais ainda...
COMO DOIS E DOIS
"Quando você
Me ouvir cantar
Venha não creia
Eu não corro perigo
Digo, não digo, não ligo
Deixo no ar
Eu sigo apenas
Porque eu gosto de cantar...


Tudo vai mal, tudo
Tudo é igual
Quando eu canto
E sou mudo
Mas eu não minto
Não minto
Estou longe e perto
Sinto alegrias
Tristezas e brinco...


Meu amor!
Tudo em volta está deserto
Tudo certo
Tudo certo como
Dois e dois são cinco...


Quando você
Me ouvir chorar
Tente não cante
Não conte comigo
Falo, não calo, não falo
Deixo sangrar
Algumas lágrimas bastam
Prá consolar...


Tudo vai mal
Tudo, tudo, tudo, tudo
Tudo mudou
Não me iludo e contudo
A mesma porta sem trinco
Mesmo teto, mesmo teto
E a mesma lua a furar
Nosso zinco...


Meu amor!
Tudo em volta está deserto
Tudo certo
Tudo certo como
Dois e dois são cinco
Meu amor! Meu amor! Meu amor!
Tudo em volta está deserto
Tudo certo
Tudo certo como
Dois e dois são cinco..."

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Eterna Infância



Estou lendo Peter Pan, essa história infantil, esse conto de fadas tão conhecido.


Se eu soubesse antes da riqueza deste texto...


J.M. Barrie é capaz de não só mostrar a vida da criança no começo do Século XX, como se rebela contra o imaginário dos adultos do começo do Século XX.


Acreditem, por trás da inocência do garoto que nunca cresce, há toda a malícia do Capitão James Hook. Vejam bem, na medida em que se adentra na história, vê-se que eles não são tão antitéticos quanto se pensa. Hook é o adulto que se esqueceu da infância, ou a criança que nunca pode ser criança. Já Peter, é o adulto que nunca cresceu, aquele que, talvez tendo passado por muitos traumas, não pôde nunca seguir adiante. Por isso Hook se irrita com a prepotência e insolência infantil de Peter, e Peter se irrita com a velhice de Hook. Hook não vê bom humor em nada.


De qualquer modo, é interessante observamos como as crianças da história criam suas relações com o mundo. A Terra do Nunca é um faz-de-conta que existe, na qual a contagem do tempo permite que as coisas sempre recomecem, façam-se sempre de novo. Interessante mesmo notar que a própria Ilha parece ser circular. Quando os personagens se perseguem, é sempre em círculo; o lago em que Peter quase se afoga é também ele, circular, sempre invocando o retorno das coisas.


As refeições também são diversas vezes, um faz-de-conta. As crianças, não tendo o que comer, tem os maiores banquetes imaginários. E se satisfazem.


O decisivo, porém, é o porque de Wendy ser tão necessária aos Meninos Perdidos: eles precisam de uma mãe. Há quem interprete essa necessidade edipicamente. Eu, por outro lado, vejo o ponto principal em outra questão. A mãe é importante porque é ela quem lhes conta histórias! Wendy vai para a Terra do Nunca para que os Meninos Perdidos tenham quem lhes conte histórias. Os meninos na Terra do Nunca não crescem porque eles mesmos não tem história. Nada muda na Terra do Nunca porque lá não há história. O tempo é imaginário.


Faltando o embate entre o mundo das normas representado pelos adulto, e aquele da desordem nos quais vivem as crianças, não há como o tempo passar, não se pode crescer.


Como diz o narrador, as crianças sabem que um dia vão crescer. Wendy descobriu isso aos 2 anos. E é quando percebe que nõa poderá nunca crescer que ela sente a súbita vontade de voltar para casa. Quando deixa de crescer, Wendy começa também a esquecer das coisas. Seu mundo de criança, que se fazia como resitência ao mundo ordenado dos adulto passa a ser tão absoluto quanto aquele ao qual lutava na Inglaterra.


As crianças, então, devem crescer, mas aquilo que viveram como crianças não deve ser jogado fora. O que Wendy guardará e passará adiante na posteridade é exatamente o mundo tal qual ela o viu quando criança. O que seus netos conhecerão não é um mundo irreal, mas uma forma diversa de enxergá-lo.


Na verdade, pode-se criar várias relações entre a Terra do Nunca e o "mundo real". As sereias, aqueles sers místicos tão atraentes, que não devem ser visitadas à noite: há algo de erótico nelas, uma atração sexual frente a elas, talvez as prostitutas londrinas do começo do seculo não possam ser enxergadas como sereias? E os piratas, bandidos. Não poderiam eles ser vistos como figuras paternas? Que coibem e tentam dominar os garotos? E os peles vermelhas? Os selvagens, estranhos de outras terras, exóticos, atraentes e ao mesmo tempo perigosos. Não é difícil achar na Londres do começo do século estrangeiros selvagens...


Esse romance enigmático e aparentemente simples traça relações magníficas entre criança e adulto. Quem vence, no caso, é a criança, porque Wendy, John e Michael aprenderam, graças a um menino que nunca pode crescer, que a infâncai deve sempre nos seguir. É o momento em que temos uma relação mais sincera pelas coisas, em que conseguimos percebê-las de modo mais distante do senso e do lugar comum.


A máxima desta obra pode ser entendida tal qual a epígrafe de Saramago em suas Pequenas Memórias: "Deixa-te levar pela criança que fostes".



foto: Fairies on Kensington Park, de Peter Pan, por Arthur Rackham


A una hermana colombiana

El peligro que enfrentan los países dicho "latinoamericanos", son, en su mayoria, los mismos. Narcotráfico, falta de educación, pobreza, violência urbana.
Si, es verdad, no vale entrar en la vida política. Ahi nadie si salva. La democracia es peligrosa! Es peligrosa pero es el único modelo de sociedad que conocemos, que ha, vez o otra estado cierta. Es peligrosa porque otorgamos nuestra vida a otros de quien nada sabemos y que en ultima instancia sabemos seren en su mayoria corruptos, asesinos...
Sudamerica crece, si expande. Aun crecer no sea lo mismo que se desenvolver. Vivimos si en modelos de sociedad que enfatizan lo inmediato. Es un princípio del autoritarismo que nuestras clases medias tanto critican aun ellas mismas lo tengan producido. "Garanta la satisfación, y el pueblo estará satisfecho". Asi seguimos soportando nuestras vidas.
La verdad es que nuestros paises estan rotos, inchados. Vean a mi país. Tan bien visto, tan líder!
Que broma! Se vende la vida a 12 prestaciones. El crédito incha la vida y la gente pensa que va bien!
Brasil, ese país tan rico, tan grande, ese foco de luz. Ese país de bonapartes, de neo-populistas, de neo-ricos y neo-pobres. Aqui se vende dignidad. Escojer por los pobres si tornó haber escojido por la pobreza, como si algo de nobre o de bello pudese surgir de no haber lo que comer, de no haber trabajo.
Hay algo que asombra los países de esa nuestra Sudamerica. Es un sentimiento de que si debe hacer mal a nosotros pues quizas asi podriamos volver a ser lo que jamas fuimos.
Cuanto a mi, como decía Unamuno, no puedo otorgar mi vida a gente que piense estar gobiernando nombres o masas, porqe soy hombre de carne y hueso y no puedo aceptar que si sacrifiquen generaciones y generaciones con la escusa de que las generaiones futuras tendran más privilegios. No puedo aceptar la política del futuro, el nacionalismo estrábico, la política del minimo esfuerzo. Tambien yo no creo que somos felizes...
Sentirse satisfecho no es sentirse pleno, es sentirse lleno, como cuando comemos demasiado. Nos encanta el almuerzo, pero en 15 minutos pasamos mal...
No, no quiero sentirme lleno. Sentirse feliz al sentirse lleno es reflejo de una cierta pobreza que tenemos. Pobreza de no haber el mínimo de referencial para una vida digna. Si vemos un pueblo satisfecho aun siga sin educación, sin trabajo y sin cosas básicas. Es señal de algo muy errado si pasa. Señal de que los discursos y las aparencias han vencido...

As raças

O meu medo maior em relação à discussão racial que se tem hoje no país, é de que um dia, tendo ouvido por exemplo, que eu não poderia estar numa casa de samba por não ser preto, eu me pegue dando graças a Deus por ser branco.
O racismo existe, o preconceito existe, mas tenho a impressão de que se não tomarmos cuidado, se a discussão continuar movida por um mote moral, na tentativa de imbricar leis morais, ao invés de um política legal ecônomica que garanta ascensão social real, nos dividiremos assim como os pretos e os brancos nos EUA há 50 anos atrás.
Ao meu ver, perde-se de vista o foco da questão. Pedir para que o Estado redima as pessoas numa medida moral é não só um estultice, como e mlongo termo, aumenta a influência deste mesmo Estado na vida do cidadão comum, a partir de certo momento, o Estado passará a prescrever ainda mais as idéias e comportamentos socialmente aceitos.
A Jusiça será feita na medida em que se garantir à população os meios para que se atinjam os acessos à educação, à decisão democrática, à moradias melhores, à emprego. A luta primeira que as dicussões raciais estão suscitando vai além do racismo, são problemas de infra-estrutura social. A política das cotas na universidade, por exemplo, não dará acesso à universaidade para o preto mais pobre, porque esse não chegou nem a estudar. Sabemos que isso ainda existe, que uma parcela da população brasileira não tem acesso a nenhum tipo de educação, a mis básica que seja. O que acontecerá é que se criará uma elite das minorias. Minoria com vontade de maioria.
A questão do racismo ou do preconceito é uma via de mão dupla, só se resolve no embate direto em circunstâncias particulares. Quando começar a se discutir o racismo não só do branco para o preto, mas também do preto para o branco (esse tabu terceiro-mundista), aí sim o problema se agravará. Se há racismo no Estado, se o Estado é o inimigo das raças, ou DA raça, negra, então o debate não deve ser voltado contra a sociedade, mas contra o próprio Estado.
Não obstante, como disse no início desse curto texto. Me preocupa muito a moralizção institucionalizada que se busca no debate racial. É a insitucionalização de um politicamente correto que, como tal, nunca deu certo no Brasil (e dúvido que em quaquer outra sociedade). Nos EUA, a luta racial culminou numa reforma legal que resolveu acima de tudo, a desigualdade econômica, levando às populações marginais acesso à educação e aos meios democráticos tão caros à sociedade. O preconceito não vai deixar de existir. Exigir isso chega a ser absurdo.

domingo, 4 de abril de 2010

Weltschmerz

Acho que eu entendi não só o que é o Ennui francês, mas entendi também o Weltschmerz alemão.
Weltshmerz é ter preguiça do mundo...

A carne

A carne, bendita carne, reduto de toda a verdade. O corpo, este ator principal das utopias, como diria Foucault, nos revela tudo o que há para saber. Não só o nosso, mas ainda o nosso em contato com outro. É ao mesmo tempo visível e invisível. Quente, frio, sempre com algo a ser descoberto.
A carne nos diz a verdade e o mesmo Foucault nos diz porque em "Le Corps, lieu d'utopies":
"Só o ato amoroso, quando nos entregamos a ele, acalma a utopia do nosso corpo: por isso é tão próximo, no imaginário, ao espelho e à morte. É porque só no amor o meu corpo está AQUI".
Bendito o instante em que o corpo se sente morto e, ainda que morot, mais vivo. Bendito o orgasmo que nos mostra que somos. Não bons nem maus, feios ou bonitos, mas capazes de coisas inimaginadas.
A política corpo a corpo deve ser toda ela dada por uma linguagem que não se esgote. Um mover-se, um sorrir e um olhar, que transbordem aquilo que somos, que nós mesmos, principalmente, não temos certeza do que seja.