segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Idealismo

Esta talvez seja a conclusão menos nova a que eu já tenha chegado, mas de qualquer modo compartilho-a com os poucos que, por algum motivo, lêem as ideias que me saem da cabeça. Direto ao ponto, Ano Novo parece, para mim, um momento triste, ao contrário do clima de festa que se cria ao redor da passagem do tempo. Pois se há tantas promessas e tantas simpatias, é porque há um sinal de que as coisas não vão exatamente do modo como gostaríamos. Obviamente, isso nunca foi nem nunca será uma questão que depende só de nós. De qualquer modo me parece que é um momento em que, num ato mecânico, pois estamos tão acostumados a simplesmente comemorar ou celebrar a chegada de um ano novo, viramos os rostos para a frente e propomos metas para esta nova data que chega. Mas me parece também, que no fundo, choramos pelas metas que soubemos não sermos capazes de cumprir; as do ano que passou. E me pergunto se não passamos tempo demais desejando a vida de uma forma e tempo de menos lutando para que ela seja da forma como queremos.
Mas, ainda que nem tudo dependa de nós, desejar um pouco mais, ou muito mais do que o possível talvez simplesmente demende coragem demais.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Vital

Medo da espera. É assim que se cria este vício letal, essa arritmia que são as paixões. Esperar o quejá se sabe; sucesso ou insucesso, e viver com a angústia da epera pelo momento derradeiro, bem como com a incerteza do que se sente. No fim, talvez tenhamos mesmo a obrigação de sermos racionais. Amor demais também faz mal ao coração e os instintos e as pulsões, se deixamos que nos levem neste mundo que vivemos, serão instintos e pulsões de morte, e só. Imagino se a decisão racional pelos impulsos não seria já uma vontade de morte, de extinguir-se pela desmesura, pela desproporçao, om o intuito de, no fim, ter sido fiel a tudo que se sentiu; mártir.
Os coitados de hoje são, no fundo, os cínicos que crêem só em seus corpos e confortos. São eles mesmos, em suas mentes, valores de verdade, porque são causas sem justificativa, o que, para eles, é mais do que legítimo. Essa impossibilidade de sairem de si e perceber as coisas não em sua consciência ou em seu corpo, mas nas coisas mesmas, é o mal que se vive. Ou a desmesura ou a cesura. De uma forma ou de outra, o mundo opta pela desrazão, pela fé cega no bem, seja ele próprio ou comum, no prazer e na boa vida. Dizemos amar a vida, mas vivemos tão distantes dela e criamos nossas religiões, nossos cultos e toda essa encruzilhada cuja meta parece ser pura e simplesmente a redenção...

sábado, 11 de dezembro de 2010

Licença Poética

“[...] eu [...], de filosofias não entendo nada” – 17/05/1993


SARAMAGO, José. Cadernos de Lanzarote I. São Paulo:Companhia das Letras, 1998.

Alfabeto

Como não me encantar com esta língua que me une ao moçambicano e ao angolano, ao português e ao guineense, a caboverdiano e ao de São Tomé; quiçá a Macau e Goa o que acho mais difícil. Mas de qualquer modo, como não amar a língua de Camões, Quental, Pessoa, Guimarães Rosa, Drummond, Bandeira, Craveirinha? Essa língua que é um mar vasto e repleto de praias e portos nos quais se ancorar. Esta língua que a-e-i-o-ua; essa língua oceânica que, tão vasta quanto os mares é a única que sabe o que é a saudade, esse amor do tato ausente, esse sentir-se em casa longe do lar...
Essa língua não é uma língua portuguesa, mas tantas e diversas; línguas e português.