sábado, 28 de janeiro de 2012

Licença Poética II

"Los liberales o progresistas tontos me tendrán por reaccionario y acaso por místico, sin saber, por supuesto, lo que esto quiere decir, y los conservadores y reaccionarios tontos me tendrán por una especie de anarquista espiritual, y unos y otoros, por un pobre señor afanoso de singularizarse y de pasar por original y cuya cabeza es una olla de grillos. Pero nadie debe cuidarse de lo que piensen de él los tontos, sean progresistas o conservadores, liberales o reaccionarios".

UNAMUNO, Miguel de. Mi Religion. In. Autodialogos. Madrid: Aguliar; 1959.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Pelo presente


"É pura inércia mental supor que, à medida que avança a História, é maior o espaço para que o homem se realize como indivíduo.

Não! A História está cheia de retrocessos e é certamente a estrutura da vida em nossa época o que mais impede o homem de viver como pessoa. - José Ortega y Gasset. A Rebelião das Massas.
Que a História seja pelo presente. Não pela triste memória que é o passado, nem pela ínfeliz projeção que é o futuro.

Sobre Fé e Razão

É muitas vezes lugar comum a ideia de que a Religião seja, antes de tudo um atraso aos homens. A Ciência - e antes dela a Filosofia, sua mãe - prova que o conhecimento racional destitui a certeza dos dogmas - vejam bem, dogmas, e não verdades - religiosas. A investigação, a dúvida metódica e a tecnologia suspendem a necessidade de qualquer crença. O que nos parece mais certo é sermos ateus. Não só, críticos de toda e qualquer religião. Como querer seguir, racionalmente, uma instituição que perseguiu, dominou e exterminou milhares de pessoas ao longo da história?
Poder-se-ia discutir a questão política que envolve o problema da religião. Mas não é o objetivo aqui. O que aqui se pretende discutir é a confusão feita entre sistemas de crença e instituições políticas. Pois a crítica à Religião leva muitas vezes a uma pretensa descrença em torno do sistema simbólico - mitológico para alguns, e portanto, irreal - sobre o qual as instituições religiosas se resposabilizariam. Ora, a primeira coisa que se deve ter em conta é que as religiões são formas organziadas politicamente pelos homens para dar, a princípio, coesão à uma ordem raiz simbólica que organiza e explica o mundo. Não obstante, a instituição não é a fé em si. Quer dizer, a Religião instituída não exprime a verdade total daquele sistema simbólico que representa, mas somente a verdade legal. Pois a Religião, como qualquer instituição humana, exige sistemas legais para seu funcionamento. Instituir algo significa, antes de tudo, outorgar a uma doutrina um princípio de legalidade, tornando-a, portato, autoridade. Toda instituição é uma instituição de poder e consequentemente de direito.
Não é essa instituição, entretanto, que exprime a verdade. O que para muitos vem da voz do douto, é na realidade um suspiro que se ouve somente no eco do primeiro e do último expirar. A verdade das religiões reside para além dos textos e doutrinas, pois remete diretamente à materialidade do ser, ao que mais nos define: vida e morte. A confusão em enxergar o que há de verdade nos sistemas simbólicos vem da desgraçada necessidade do homem de racionalizar experiências sobrenaturais, em dominar a natureza e subjuga-la, em desejar demais um fruto proibido, que nos leva a afirmar uma verdade eterna ou pior, única, tornando-a o ponto de apoio de nossa vida social. Pois é a instituição dos sistemas simbólicos de crença o pico e, ao mesmo tempo a base de um plano de solidificação da sociedade humana.
Na crítica política à história das instituições religiosas, os homens deixaram de ver, por baixo do solidéu, do yarmulke ou da shador, o pendor agônico de tradições perdidas. Pois a religião instituída é, antes de tudo, um sinal de que o que deveria ser passado de boca em boca, tal qual o nome secreto suspirado ao ouvido do recém-nascido, ou o passo das garças expressos nos movimentos de uma arte marcial, começa e tornar-se história. Não à toa, os verbos proferidos por nomes das Igrejas são sempre conjugados no passado.
A crença, e principalmente, a fé, é tão inerente ao ser humano quanto a dúvida. Cremos por que duvidamos e vice-versa. Por isso, crer significa querer crer e acreditar em algo significa querer que algo exista. "Creio! Vem em socorro à minha falta de fé"; como o pai do menino epilético salvo por Cristo. Essa é a imagem da fé.
 É uma coisa seguir a homens que equacionam e matematizam fé e razão como meio de dominar. Mesmo assim, dentro das próprias instituições há homens brilhantes como Santo Agostinho, Santa Tereza, Avicena, Averróis ou Sidartha. Pois esses homens e essa mulher, trágica e iluminada, souberam por a vida em frente a tudo. E fizeram de suas vidas, a imagem da nossa vida.
Crer é somente um risco quando nos cega a razão. E a razão é risco tão grande quanto, quanto nos cega a crença. Pois crer, mesmo que seja somente a crença num fim inevitável e total, é, antes de tudo crer. O paradoxo nunca se resolverá. Eleger a razão como mestre de nossa dita humanidade é correr o risco de cegar todo um mundo, que vaga á, como zumbi, por suas vidas cada vez mais longas e cada vez mais sofridas. A tecnocracia é a religião de nosso século, como foi do século passado. E exatamente como criticam as religiões, a tecnocracia não vem fazendo mais do que dominar e explorar, jogando homem contra homem, irmão contra irmão, mulher contra marido.
Irracionalista! - direis. De forma alguma. Crer não limita a razão. Simplesmente a põe em seu lugar. Pois a razão explica a História e os fatos humanos, e alinha inúmeras vidas de homens, mas não compreende a vida, porque essa não é para ser entendida, senão vivida.
"Y si me preguntara cómo creo en Dios, es decir, cómo Dios se crea en mí miso y se me revela, tendré acaso que hacer sonreír, reír o escandalizarse tal vez al que se lo diga. Creo en Dios como creo en mis amigos, por sentir el aliento de su cariño y su mano invisible e intangible que me trae y me lleva y me estruja, por tener íntima conciencia de una providencia particular y de una mente universal que me traba mi propio destino. Y ele concepto de la ley - !concepto al cabo! - nada me dice ni me enseña". - UNAMUNO, Miguel de. Del Sentimiento Trágico de la Vida. Buenos Aires; Longseller:2004.