segunda-feira, 31 de maio de 2010

Outra...

Uma do Paulo César Pinheiro.

"Eu sozinho sou mais forte
Minh'alma mais atrevida.
Não fujo nunca da vida,
Nem tenho medo da morte.

Eu sozinho de verdade,
Encontro em mim minha essência
Não faço caso de ausência
E nem me incomoda a saudade.

Eu sozinho em estado bruto
Sou força que principia,
Sou gerador de energia
De mim mesmo absoluto.

Eu sozinho sou imenso,
Não meço nunca o meu passo
Não penso nunca o que faço
E faço tudo o que penso.

Eu sozinho sou a esfinge
Pousada no meio do deserto.
Que finge que sabe o que é certo
E sabe que é certo o que finge.

Eu sozinho sou sereno
E diante da imensidão
De toda essa solidão,
O mundo fica pequeno.

Eu sozinho, em meu caminho
Sou eu, sou todos, sou tudo.
E isso sem ter, contudo,
Jamais ter ficado sozinho"

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Os Anos 60

O que me encanta nos movimentos jovens dos anos 60, na verdade nos movimentos juvenis dos EUA dos anos 60, é que eles foram capazes de reatualizar, de redefinir o jovem no mundo. Não foram movimentos maoístas ou stalinistas ou marxistas ou de qualquer outro tipo de "ismo", embora, é claro, as ideologias políticas e as filosofias das mais diversas permeassem os ideais. Mas no fundo, os movimentos foram reivindicações de outras instâncias, mais profundas. Era uma movimentação a favor da sensibilidade, da compreensão - não do "tudo está sempre bem" dos "hippies" atuais que acham que compartir um baseado com um mendigo é fazer algo por alguém - do diálogo, da política feita entre os corpos.
Em sua aparente isenção da sociedade, por parte dos hippies, ou do engajamento pela igualdade dos direitos civis e pelo fim da Guerra do Vietnã por parte dos estudantes universitários e a deserção por parte dos garotos em idade militar. Aquela sociedade tão criticada, tão vil aos olhos do mundo, tão imperialista e todos os outros adjetivos que os marxistas ortodoxos adoram reproduzir para pintar o demônio em alguém, foi a única sociedade que possibilitou à filosofia aquela que é provavelmente a única utopia da atualidade, pensada por Marcuse - independentemente das centenas de críticas possíveis - e muito bem resumida nas últimas linhas de Eros e Civilização:
"Os homens podem morrer sem angústia se souberem que o que eles amam está protegido contra a miséria e o esuqecimento. Após uma vida bem cumprida, podem chamar a si a incumbência da morte - num momento de sua pópria escolha. Mas até o advento supremo da liberdade não pode redimir aqueles que morrem em dor. É a recordação deles e a culpa acumulada da humanidade contra as suas vítimas que obscurecem as perspectivas de uma civilização sem repressão"
Foi contra isso que essa geração levantou sua voz: a impossibilidade de uma civilização não repressiva. E a importância de uma utopia é vital, pois é o projeto de uma civilização que tem materialmente quase todas as condições para se realizar.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Da Pintura

Como olhar um quadro e interpretá-lo? Deve-se perguntar se a pintura é meramente uma representação, ou melhor uma imitação de algo ou se é, ela mesma, uma reflexão, um poema, um ensaio. Como, no entanto, identificar isso? como saber primeiro: se as intenções do artista eram a de refletir com a criação da obra; segundo: se independentemente disso, a obra expressa por si uma reflexão.
Merleau-Ponty dizia que a pintura não era uma representação, era a coisa mesma. Assim, quaquer quadro deve ser visto como ó próprio objeto retratado para, a partir daí, revelar um certo "espírito" daquilo que está ali. Técnica, objeto, tema, são todos temporais, históricos. Hoje, se um artista representa o século XIX, ele o representa quase que sempre a partir de seu próprio tempo. Quando Oiticica criou seus penetráveis, expôs ali toda uma concepção contemporânea e brasileira de espaço e a forma de se compreender nesse espaço mesmo. Assim também deve ser a análise de um quadro. Se se representa uma favela, independentemente da intenção autoral, ali pode está a favela tal como ela é, podendo estar presente nela toda a ideologia de um discurso de estetização da pobreza ou de denúncia da miséria. Uma vez que a arte não possui mais papel político, a reflexão sobre ela é fundante para um princípio de política.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Excerto III

"O velho Torquato dá relevo ao que conta à força de imagens engraçadas ou apologos. Ontem explicava o mal da nossa raça: preguiça de pensar".

Monteiro Lobato. Cidades Mortas.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Do Dever - On Duty

Kant, aquele homem que só sendo louco para ter sido o filósofo que foi, tinha razão em uma coisa: se queremos ser felizes, devemos seguir nossas inclinações; se queremos ser corretos, devemos abandoná-las, e seguir nossos deveres. Um amigo me lembrou disto hoje e percebi como é engraçado de que modo filosofia e vida se misturam. Como quase acabo de dizer, em outro texto, o dever é, por vezes, desumano.
O que fazer, no entanto, quando tanto a inclinação quanto o dever não trarão nem felicidade e nem retidão?
Kant, that man that had to be mad to be such a philosopher, was right in one thing: if we wish to be happy, we have to follow our inclinations; if we wish to be correct, we have to abandon them, and follow our duties. A friend of mine reminded me of that today and I realized how funny it is the way philosophy and life get mixed up. As I almost just said, in another text, duty is, sometimes, not-human.
But, what to do when neither inclination nor duty will bring neither happinnes or righfullness?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Paisagem Urbana III

Não há mais perdizes nas Perdizes. Na Bela Vista não se vê nada. Higienópolis é sujo.
Restará ainda alguma Liberdade?

The Other Side of Abbey Road


Em um disco de 1970, George Benson regravou Abbey Road, dos Beatles, com todo o swing que lhe é pessoal, suas sextas suavemente estraçalhantes e sua voz aveludada, de um Benson ainda jovem. Não há como não se deliciar ouvindo regravações em jazz de Something e Oh!Darling, por exemplo.

De qualquer modo, do que quero falar mesmo, é dos Beatles. Incrível como foram regravados, e de quantas formas diferentes, e ainda, em quantos momentos diferentes da história recente!!! O próprio disco de Benson foi gravado 1 ano após o lançamento de Abbey Road. Só leva a crer que esta banda foi uma das poucas coisas que a Indústria Cultural criou que fugiu de seu controle. Só leva a crer que os Beatles foram uma das poucas bandas atuais com algo a dizer. Na vanguarda desde sempre, invertiam de forma aparentemente infantis, toda a pretensa malandragem dos primórdios do rock. Enquanto frenéticos americanos apelavam em músicas de duplo sentido, rebeldes numa sociedade puritana. os Fab 4 só queriam segurar a mão de uma garota. Mais tarde, deram origem a um dos primeiros discos realmente progressivos: o próprio Abbey Road, último disco gravado em estúdio por eles (as músicas de Let it Be já estavam prontas). Com Sargent Pepper´s, deram origem ao rock psicodélico que desencadearia o movimento de uma geração inteira. Sem participar diretamente das manifestações políticas como uma banda, por volta de 68, instigaram toda a estética destes manifestantes.

Poderia escrever um texto imenso sobre o que penso deles, mas não quero e também não sei até que ponto vale a pena neste momento. O que quero dizer é: quem bom, ainda há arte!

domingo, 9 de maio de 2010

Excerto II

Uma frase de Pessoa:
"Eu sou aquilo que perdi".

A phrase by Pessoa:
"I am what I have lost".

sábado, 8 de maio de 2010

Schopenhauriana I

1 estratagema em contribuição à heurística de Schopenhauer em tempos modernos.
Quando alguém te disser arrogantemente, com pachorra de detentor de verdade que alguma questão ética é uma questão de cuidado-de-si, responda que você não está interessado em sua higiene pessoal.
Não, não é uma crítica à Foucault, mas aos foucaultianos.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Dialética à Brasileira

"A rapadura é doce, mas não é mole não".
Essa riqueza que o brasileiro tem de conseguir sitnetizar coisas complexas em frases que chegam até a ser bestas, devia ser estudada.
Essa frase besta, tem muito a dizer...

Londres




Londres.. ah... Londres.



Eu entendo a raiva que os latinos, principalmente - excessão feita aos portugueses - não suportam os ingleses: os ingleses não deram chance para que toda aquela simpatia viesse à tona. Não, eles não recebem todos com sorrisos e braços abertos, com aquela calorosidade e simpatia dos latinos. Vejam bem, isso não significa que eles não sejam simpáticos e afetivos. A diferença reside numa questão de privacidade. É um princípio acima de tudo racional! Não, eu não quero qualquer um perto de mim; e não, eu não devo gostar de qualquer um. Nem por isso serei estúpido, rude ou arrogante. O que se sente em relação aos ingleses, o modo como eles se relacionam é: "Não invadindo meu espaço, meu amigo, faça o que bem entende".



Os latinos adoram tomar por arrogância esse comportamento britânico. Talvez porque no fundo os latinos gozem de pouca liberdade. Comparação feita a outras nações, os ingleses gozam de liberdade, pois os limites de suas atitudes são impostas por eles mesmos. O limite entre o bom senso e a depravação ou o abuso é outorgado ao próprio povo. Por isso não se preocupam em medir os outros na rua, em medir seus trajes, suas aparências.



Foi o lugar em que as pessoas mais foram simpáticas, porque percebia-se uma simpatia sincera. Não por educação ou bons modos, mas simplesmente porque é assim. Ponto.



Longe da perfeição, óbvio. Quando um inglês quer ser descortês, não faz cerimônia.



Mas mudando um pouco, a própria cidade te convida a viver. É uma cidade pulsante, frenética. Os pubs lotados no dia de São Jorge, as músicas que escapam das portas entreabertas. A multidão que passa dizendo "sorry" a cada esbarrão, os ternos bem cortados, as pernas que se alongam por baixo das saias sociais, Picadilly, sempre cheio de jovens a espera de algo para fazer.



Cada esquina traz uma surpresa, e toda Londres é um grande mistério.

terça-feira, 4 de maio de 2010

Ponte aérea: Paris - São Paulo

Ok ok.. Paris é linda, é charmosa e romântica.
O que irrita em Paris é que acaba-se entendendo porque a classe mérdia paulistana - essa ralé emergente do meio do mato - se apaixona pela cidade, ainda que - eu acredito piamente nisso - dificilmente consigam se interar: Paris é o vislumbre daquilo que uma verdadeira burguesia é.
Minha raiva de Paris acaba sendo, assim, uma atitude política.
O consumo em si não é mal. É inevitável consumirmos. Quem não gosta de se vestir bem? A questão é o poveco sair do Brasil e comprar algo caro (caro para nosso padrões, porque para os padrões deles, só uma meia dúzia daqui consegue bancar) e achar que só por isso se pertence a uma classe maior, mais digna, crê-se luxuoso. Como aquela puta, dona dessa loja gigantesca de São Paulo, à beira de um dos rios moquifentos.
A classe média parisiense eu respeito. Tirando sua superficialidade, são elegantes, bem educados, tem modos à mesa e falam corretamente. A daqui eu odeio. Tenho ódio real. E não pensem que eu não me reconheço pequeno-burguês. Sim, eu sei muito bem minha condição.
Mas não me ponham no mesmo patamar.
Falta às pessoas daqui perceberem que não é porque dirigem Tucson e vestem Prada que elas são bonitas. A grande maioria delas não é e devemos parar com o papo politicamente correto e reconhecer: só se elas morressem e nascessem de novo. Algumas, nem mesmo assim.
Uma poesia de Maiakóvski pré-revolução de 17 dizia algo mais ou menos assim:
"Come ananás
mastigas perdiz.
Teu dia está rente
burguês".
Se ainda nossa burguesia comesse ananás e perdiz... o que me parece é que comem merda.
Em Paris, pelo menos, como eu já disse, os burgueses são educados e sabem comer e beber. Uma das poucas coisas inteligentes que a burguesia conseguiu fazer, segundo Lênin, foi herdar os bons costumes da aristocracia.
Nosso problema é que no fundo, diferenças econômicas à parte, todos somos pobres. Pensa-se sempre do mesmo modo. Acha-se bonito ser feio; vê-se beleza na pobreza.
Há um preconceito contra a honestidade e os bons modos, a tomada de decisão aberta e a defesa do que é certo.
O que somos é medíocre.
Medíocres.. e achamos bonito.