segunda-feira, 28 de junho de 2010

domingo, 27 de junho de 2010

O medo

Esconder de nós mesmos o medo é o pior erro que podemos cometer. O medo, quando existir, deve ser semelhante a um vício a ser vencido.

Do gesto

Um gesto, por mais simples que seja, pode trazer exatamente aquilo que precisamos, ainda que o saibamos impossível: a suspensão do tempo de uma vivência que não queremos que cesse jamais...


terça-feira, 22 de junho de 2010

Um desabafo futebolístico

Os franceses cunharam a idéia de fraternidade tendo em vista sua aplicação ao mundo todo. No fim, um francês só é amigo mesmo de um francês. Faz sentido. Que chamem um português de povo irmão, ou angolanos, moçambicanos, guineenses, tudo bem. Falam a mesma língua, compartilham símbolos e signos comuns.
Mas não. Estimula-se a idéia de que eu tenho que se irmão de argentino! Tem cabimento? Não, não é povo irmão, não é amistoso. Podemos nos dar bem, até certo ponto, mas são essas pequenas coisinhas do dia-a-dia que faz com que se adote cada vez mais, um discuros cultural que não faz sentido algum. É por isso que há um bando de brasileiros não só torcendo contra o Brasil, mas pelo Maradonna. O pior ainda, é quando se vê toda a intelectualidade do futebol, os sociólogos de plantão, achando bonitinho o preconceito do anão viciado. Adotamos o discurso politicamente correto. Não se pode xingar, brigar, mas quando o anãozinho chama alguém de "preto", "senhor moreno", aí é só engraçado, chistoso. O jogo desonesto, a catimba, naquele lado é bonito: vale tudo pra ganhar. Eu não acredito naquele papo de futebol como ópio do povo, que o futebol aliena e tudo mais. Mas, sendo algo que desperta a paixão das pessoas - pois no jogo elas são capazes de deixar de lado suas maiores convicções em nome de uma dominação simbólica - o futebol é ótimo para que vejamos o que, realmente, as pessoas pensam. O que se vê de apoio a alguém como Maradonna, é espantoso. Porque o que se vê não é uma elegia ao seu futebol, ams uma adoração à sua própria pessoa, àquele jogo sujo como "algo necessário", um futebol no qual o fim justifica os meios, de fato. E isso só me pode parecer preocupante.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Uma do Ghiraldelli

Pois eu tinha dito que o Moderno já nasce ultrapassado... eis uma do filósofo Paulo Ghiraldelli:

"Moderno é tudo que envelhece mais depressa que qualquer outra coisa".

http://ghiraldelli.pro.br/?page_id=60

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O homem induplicável

Eis que hoje, durante o intervalo entre um café e outro, ouvi por terceiros que Saramago havia morrido. Recusei-me a acreditar de início; achei ter ouvido errado. Infelizmente não.
Nunca procurei ter ídolos, mas hoje me pergunto até que ponto admiração não é também, idolatria. De qualquer modo, esta discussão não tem lugar aqui.
Este texto deve se tratar de uma despedida, de uma homenagem a um escritor que tem cada vez mais a ensinar e cuja profundidade e significado da obra só poderá começar a ser compreendida daqui a alguns anos.
Saramago, segundo a maioria dos que os conheceram, era um cavalheiro. Era gentil, ainda que defendesse veementemente suas idéias e possuísse um ar sério. Isto eu mesmo pude sentir, numa primavera de 2005 por ocasião do lançamento de As Intermitências da Morte no SESC Pinheiros. Eu tremia ao entregar eu livro para que ele o autografasse e engasguei na tentativa de agradecer. Mas pude olhar em seus olhos e apertar suas mãos firmes - impressionantemente firmes para um senhor de já 82 anos de idade -e sinceramente duvido que me esquecerei de seu breve "obrigado" dito olhos nos olhos. Austero porém doce.
Em tempos de fins de utopias, Saramago, aquele velho comunista, nos mostrou que a vida vai além das ideologias e crenças. Sua própria vida foi o palco de sua literatura: um homem que na medida possível do humano, foi ético.
Acima de tudo, acredito que Saramago tenha deixado um legado para a juventude. Sua obra será compreendida à medida em que nós jovens, que vivemos com toda a intensidade o que mais tarde será conformismo, a conservarmos. A literatura de Saramago foi o reencontro da experiência do homem maduro com o caráter destrutivo do jovem. Se é necessário criar um sentido para a vida, que seja o de vencer a morte, que como o próprio Saramago dizia, só se alcança pelo amor.
Uma vez, Saramago disse em O Homem Duplicado, que nem todos os verbetes de todos os dicionários conteriam metade dos termos que precisamos para entendermos uns aos outros. Por isso, na obra deste materialista, marxista, comunista, os sentidos foram tão exaltados e sempre, entre os homens, algo ficou por ser dito e que, exatamente por isso, foi compreendido.
Nunca houve algo novo na crítica de Saramago. Nada do que ele tenha dito já não era óbvio, perceptível e claro. A cegueira, a prisão na caverna platônica, a ilusão dos sistemas políticos. Seu mérito está na forma em que tratou disto: sem sistemas, sem retórica, sem falácias. Exatamente por ser um romancista, por ser um ficcionista, criou livremente e expressou com toda clareza aquilo que parecia ter ficado para trás. Não à toa, escreveu um Manual de Pintura e Caligrafia. Sua própria obra é uma pintura: cria-se a cada golpe de pena, uma sobre a outra e o tod é mais do que a soma das partes. Restam em seus romances muitas coisas a serem ditas e por isso suas histórias não se esgotam. Saramago não quis expor a realidade, mas sua própria obra é a realidade.
Poderíamos criticá-lo por ser a certo ponto antiquado: vale-se de categorias antigas como dignidade, direitos, honestidade. Se ele buscou tais coisas em sua vida, foi porque não via o erro do projeto humanista, mas a completa inexistência real de séculos de planejamente por sociedades mais justas, nas quais as pessoas pudessem usufruir de suas próprias vidas.

"As misérias do mundo estão aí, e só há dois modos de reagir diante delas: ou entender que não se tem a culpa e, portanto, encolher os ombros e dizer que não está nas suas mãos remediá-lo — e isto é certo —, ou, melhor, assumir que, ainda quando não está nas nossas mãos resolvê-lo, devemos comportar-nos como se assim fosse".
La Jornada, México, 3 de Dezembro de 1998
Saramago deixa-nos um legado imenso, de valor não só literário como ético. Em dias em que se questiona o fim da literatura, das artes, do sujeito e de todas as categorias modernas, Saramago nos mostrou que há ainda, algo a dizer, mesmo que seja pelo silêncio.
Foi-se o homem, fica a obra. A morte é só a morte do organismo. O resto ainda pulsa.
Cabe a nós não deixarmos que também a obra se vá. É nossa a missão de que não se deixe ir a luta incessante de, a cada dia, a cada minuto, abraçar com todo o amor do mundo a vida com todo seu peso, longe do descaso e da opressão, da razão cega e das paixões burras, da caverna e das sombras.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Os filósofos

Parece que há cada vez menos filósofos. A estratificação do campo da filosofia, a necessidade burocrática de especialização cada vez maior faz com que haja pensadores políticos, estetas, metafísicos, mas poucos filósofos. Não é nada nova minha afirmação, mas o que vem me espantando é o fato de cada vez menos, aqueles que estudam filosofia não viverem a própria filosofia, isto é, não viverem de acordo com suas convicções filosóficas. Como pode-se chamar de filósofo alguém que se declara marxista em seus textos, por exemplo, mas é incapaz de viver de acordo com a ética que esboça textualmente, de acordo com os preceitos daquilo que crê ser um pensar correto sobre a vida, pois a filosofia não é nada mais do que isso: um pensar sobre a vida.
Não que, se formos filósofos seremos corretos sempre, nunca erraremos. É necessário errar, inclusive propositalmente. Pomos à prova nossas crenças, e reformulamos o pensamento e o agir. A questão é que acho inaceitável achar que, em alguém que busca ser filósofo, acreditar-se que há uma separação entre aquele fulano que dá aula, fulano acadêmico, pesquisador, e o mesmo fulano pai, amigo, marido, boleiro de domingo. O filósofo deve sim assumir uma tarefa dura de viver conforme suas "crenças" filosóficas caso ele acredite que a filosofia ainda tem algo a ensinar.

Da Arte ou Primeira incursão na Estética...

Atualmente, há uma discussão sobre a possibilidade da arte. Existiria ainda alguma arte? Seria a pintura, ainda, possível? Estética não é minha especialidade. Bom, na verdade um recém-formado não é especialista em nada, mas, de qualquer modo, o que me parece é que a arte sim é possível. Acontece que, a meu ver, toda arte verdadeira não é nada mais do que uma narrativa. Assim sendo, ela deve remeter a seu tempo, ainda que traga consigo toda a história.
No caso da pintura, se se nota um esgotamento de significado acredito que seja porque a própria arte muda de forma. Se há um descolamento da arte em relação à sociedade, é porque a transformação da arte em consumo destituiu a arte de qualquer caráter capaz de estimular uma reflexão ou de gerar reconhecimento entre autor e receptor. A arte se tornou, assim, meramente um produto de admiração, reduzido a seu valor de mercado, a seu valor, podemos dizer, "de exposição".
Perguntar se a arte ainda é possível é necessariamente reivindicar uma função social da arte, pois se já não é mais importante nos perguntarmos sobre a "forma" da arte, sobre o processo de criação da arte, então o que perguntamos é sobre um certo "papel" da arte. Uma vez que não há nada novo na pintura, que não há mais criação, e que os artistas são tão dispensáveis partir do momento em que deixam de ser uma novidade - assim como o trabalhador braçal, quando se esgota sua força - porque a arte deveria, de fato, "criar" algo novo? Ela deveria mudar? Deveria ainda proporcionar novas percepções ou novas experiências? Novas técnicas artísticas são criadaas à todo momento e se isso não é o suficiente para se dizer que a arte continua viva, então é porque necessariamente se reivindica uma arte que transforme seus receptores, que estimule uma reflexão, que tenha, assim, um cunho social.
Se, então, assumimos a idéia de que toda arte real é deve ser uma grande narrativa, a exigência de um reporte às realidade sociais fica facilitada: as artes mudam de forma, passam a residir em outros modos de expressão estética. As graphic novels e o grafite são expressões disto. A emergência de uma forma de romance que alie imagem gráfica, desenho, e palavra escrita, expressa o universo misto no qual o mundo atual se encontra. Ao ler uma história em quadrinhos cuidadosamente desenhada, de cunho político muito mais forte do que muitos romances atuais, as pessoas se reconhecem. Se explica assim o enorme sucesso de novelas como V for Vendetta - com a qual se poderia ensinar Locke - e Watchmen - com a qual se poderia dar uma aula de história sobre todo o Pós-Guerra até a Queda do Muro. O grafite, por outro lado, reporta as pessoas à sua relidade: o preenchimento de espaços urbanos vagos com cor, com figuras da própria cidade.
Buscar uma arte que não seja mercadoria, não faz sentido. Tampouco faz sentido reivindicar uma arte realista. Mas deve-se buscar sim uma arte que reporte o receptor ao mundo, que o estimule a pensar, antes de tudo. Não pensar em transformação, em práxis, mas que estimule a reflexão sobre aquilo que lhe foi retratado. A exposição de grafites no espaço público já demonstra seu caráter social. Há grafites logo ali no túnel da Avenida 23 de Maio para que todos vejam. Que retratem um grande monstro sem cabeça, Don Pedro I - como na Avenida Dr Arnaldo - não importa. Está à disposição para que as pessoas os observem e em seguida, observem seu entorno. Isto é muito mais propenso a uma reflexão do que a exposição aberta ao público num museu.
Sendo uma linguagem, as artes são reformuladas de tempos em tempos, num processo de longa duração, elas se consolidam em algo novo de tempos em tempos. Mas assim como as realidades sócio-políticas são naturalizadas, também a linguagem é naturalizada e a damos como dada, como algo que "sempre esteve ali" e não percebemos as reviravoltas que ocorrem.
Deste modo, a arte muda de forma, pensar em pintura hoje como uma "arte real", talvez não seja mais possível. Talvez ela sobrevia, mas tenha passado sua época de "grande arte". Uma das obras de Vera Martins me fez pensar nisto. Em certo momento de sua produção, Vera Martins desfiava telas, e as apresentava sobrepostas formando uma rosa que desabrochava em diversas fases. Isso remete não só, talvez, a seu processo criativo como artista, mas para além, disto, à transformação da pintura em outra coisa, em escultura talvez. A apresentação de telas inteiramente desfiadas, sobre suportes quadrados, lembrando egunguns, espíritos perambulantes, mostra, para além de sua intenção explícita, que a pintura, ainda que não tenha morrido, simplesmente sobrevive. É necessário buscar a arte em outros lugares, posi ela já ocupa outros lugares; já a levamos a outros lugares. Mas não nos demos conta.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Israel, outra vez

A atitude de Israel de invadir os navios de ajuda humanitária em águas internacionais veio para sacramentar as verdadeiras vontades do país. Primeiramente, os israelenses consideram-se no direito de declarar inimigos em todas as partes, mas exige que todos abracem sua causa. O pirateio de navios que levavam comida, brinquedos e roupas para Gaza, mostra que as intenções verdadeiras de Israel não param na autonomia de um Estado, mas na realização de um projeto expansionista que pretenda abranger provavelmente do Rio Tigre ao Mar Vermelho. A atitude covarde, hipócrita e prepotente de Israel serve, além disso, para mostrar até que ponto a história recente da humanidade foi transformada em tabu. Israel é um Estado que usa a predicativa de, por ter sido formado pelo povo perseguido no holocausto (ou melhor, um dos povos, dos outros ninguém lembra), ter a priori, todos os seus atos justificados; sempre foram e sempre serão vítimas de "anti-semitismo". Assim justificam seu anti-arabismo e todos seus outros preconceitos. Valem-se de um passado que já não pode ser compreendido (afinal, os horrores do holocausto foram muito grandes para serem entendidos ou memso concebidos), para justificar todos os seus atos. Não consigo entender, no entanto, como isso pode justificar soldados usando camisetas com piadas sobre matar duas pessoas com uma só bala atirando numa grávida palestina.

Tudo, simplesmente tudo, parece ser justificável pelo passado. A história começa a se repetir como tragédia. As vítimas de ontem são os vilões de hoje. Israel é um Estado teorrorista e assassino. Não me espantaria se logo, crimes novos forem descobertos em Gaza ou na Cisjordânia: estupros, imolação e etc.

E o mais engraçado é que eles ainda usam como princípio de suas atitudes a religião, ou seja, tal como os Estados islâmicos, nos quais todos vêem tantos demônios, Israel, fundando toda uma nação num princípio religioso, recusa-se a aceitar leis internacionais; dá como divinas suas leis, prega que as terras são suas por direito divino. Porque temos tanto medo de reconhecer que eles estão hoje, fazendo o mesmo que os nazistas fizeram? Por medo de reconhecer novamente toda a barbárie de 70 anos atrás? Ou por medo deles? Por medo de sermos presos ou chama-los de nazistas? O sionismo israelense é o nazismo do Século XXI: assassinato em massa, guetos reclusórios e, aciam de tudo, se acreditam que são mesmo o povo escolhido, é porque provavelmente, os hebreus creiam-se uma raça superior, mais pura, mais... alguma coisa em relação às outras "raças".