quinta-feira, 26 de julho de 2012

Pense o que quiser

Superar a si mesmo é uma questão puramente ética. Superar aos outros, é uma questão moral. Concluam.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Quisera minha voz

Quisera minha voz,
Só para cantar fosse.
Ou nomear.
Os pássaros falam cantando.
Mas eu, tão ofensivo,
quando cala o desafio
falando sou,
o cruel que condeno.

Quisera minha voz
Só para cantar fosse.
Ou para criar nomes.
Nomes e coisas.
Coisas de pássaro,
coisas de flor.
Pois nomes já têm
as coisas de dor.

Palavras coisas, nomeadas.
Nomes novos,
coisas novas.
Quisera eu, a voz
nomeasse, atroz,
as coisas que eu nem sei.

Quisera minha voz,
Só para cantar fosse.
Ou declamar,
em versos, falar.
Versos de nomes,
só nomes quisera
minha voz declamar.

Os pássaros só falam cantando.
Quisera minha voz,
sem o problema atroz,
da distância da alma à língua,
só para cantar fosse,
Ou declamar,
em versos, falar.
Coisas de pássaro, coisas de flor.
Os pássaros falam, cantando.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Manifesto


Encontrado numa folha amassada num albergue da juventude, o manuscrito com certeza escrito por alunos brasileiros, foi passado a um ex-aluno da PUC-SP - atualmente desempregado - por um traficante marroquino em Paris. Certos trechos estão rasurados e ilegíveis. Além disso, o manifesto dá indícios de uma continuação, provavelmente perdida, dado que conta o estudante, que ele e o traficante marroquino usaram - pelo pouco que ele se lembra - a folha anexada para bolar um baseado.

"Somos herdeiros diretos da Revolução Neolítica, da Reforma Protestante, da Comuna de Paris, Revolução de Outubro, Primavera de Praga, Maio de 68, Woodstock, Diretas [rasurado]; contemporâneos dos irmãos árabes em sua primavera. Esta herança se expressa diretamente nas ricas manifestações culturais de alto teor político-engajado-reivindicatório de corrente estrutural-estruturante-estruturada como o [um longo trecho rasurado se segue, possivelmente citando outros movimentos populares] e os diversos maracatus de baque-virado da Vila [nome ilegível], berço do samba; vagamos por muito tempo no limbo dos não-lugares, do não-pertencimento e não acolhimento, por parte da sociedade, de nosso devir revolucionário-insurgente consequencia de nossa vontade de potência..

Por muito tempo ficamos à mercê do autoritarismo superegóico encarnado na figura paterna, recorrendo somente ao seio maternal em sua essência edípica. Hoje, o clarão da aurora resplandece no horizonte.

Nossa luta, que emerge do próprio seio da luta de classes, reivindica o alto e bom som dos estudantes, secretários e faxineiros. E reivindicamos esse direito inalienável de gritarmos e nos expressarmos enquanto tais: estudantes, secretários e faxineiros. É nossa postura de únicos-proprietários que nos permite ultrapassar a barreira das classes e suprir o emprego dos trabalhadores garantindo bitucas e latas de cervejas vazias suficientes, atitude límpida e branda reprimida duramente pela reitoria, aparelho opressor, moralista e católico.

Não nos curvamos! Como o Messias que chega pela porta estreita para a redenção do Homem e também tal qual a nobre fênix, renascemos das cinzas de nossos baseados para acusar, delatar, apontar com o dedo em riste, a hipocrisisa de todos os anti-democráticos, os que querem punir, cercear, policiar; todos os que dizem que não concordam com a nobre e justa não-causa de nossa geração, e nos impedem de tornar nossas vidas grandes obras de arte e grandes narrativas.

Adotando autogestionariamente – pois a autogestão é a gestão do único – uma postura insurgente-revolucionária, lutamos por uma universidade pública e intempestiva, fechada aos fascistas, aberta aos que lutam pelo Bem, pela Vontade, pelos devires, pelos desvios, pela diferença, ainda que a realidade mostre que somos todos cada vez mais iguais

Filhos [rasurado] do mundo, uni-vos!"

O manuscrito se interrompe aqui.