terça-feira, 4 de maio de 2010

Ponte aérea: Paris - São Paulo

Ok ok.. Paris é linda, é charmosa e romântica.
O que irrita em Paris é que acaba-se entendendo porque a classe mérdia paulistana - essa ralé emergente do meio do mato - se apaixona pela cidade, ainda que - eu acredito piamente nisso - dificilmente consigam se interar: Paris é o vislumbre daquilo que uma verdadeira burguesia é.
Minha raiva de Paris acaba sendo, assim, uma atitude política.
O consumo em si não é mal. É inevitável consumirmos. Quem não gosta de se vestir bem? A questão é o poveco sair do Brasil e comprar algo caro (caro para nosso padrões, porque para os padrões deles, só uma meia dúzia daqui consegue bancar) e achar que só por isso se pertence a uma classe maior, mais digna, crê-se luxuoso. Como aquela puta, dona dessa loja gigantesca de São Paulo, à beira de um dos rios moquifentos.
A classe média parisiense eu respeito. Tirando sua superficialidade, são elegantes, bem educados, tem modos à mesa e falam corretamente. A daqui eu odeio. Tenho ódio real. E não pensem que eu não me reconheço pequeno-burguês. Sim, eu sei muito bem minha condição.
Mas não me ponham no mesmo patamar.
Falta às pessoas daqui perceberem que não é porque dirigem Tucson e vestem Prada que elas são bonitas. A grande maioria delas não é e devemos parar com o papo politicamente correto e reconhecer: só se elas morressem e nascessem de novo. Algumas, nem mesmo assim.
Uma poesia de Maiakóvski pré-revolução de 17 dizia algo mais ou menos assim:
"Come ananás
mastigas perdiz.
Teu dia está rente
burguês".
Se ainda nossa burguesia comesse ananás e perdiz... o que me parece é que comem merda.
Em Paris, pelo menos, como eu já disse, os burgueses são educados e sabem comer e beber. Uma das poucas coisas inteligentes que a burguesia conseguiu fazer, segundo Lênin, foi herdar os bons costumes da aristocracia.
Nosso problema é que no fundo, diferenças econômicas à parte, todos somos pobres. Pensa-se sempre do mesmo modo. Acha-se bonito ser feio; vê-se beleza na pobreza.
Há um preconceito contra a honestidade e os bons modos, a tomada de decisão aberta e a defesa do que é certo.
O que somos é medíocre.
Medíocres.. e achamos bonito.

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