"No dia 23 de abril de todo
ano, os ingleses celebram o dia dedicado a seu santo padroeiro. Mas o
verdadeiro São Jorge viveu em Beirute, onde o dragão foi morto. Esse extrato do
livro mostra que a figura lendária ainda é parte da vida do povo libanês".
Meu tio Makhoul não acreditava em destino. Costumava
sempre dizer: "Um homem pode sempre colher o que plantar”; enquanto meu
outro tio, Abu Saadeh, declarava que "O homem não pode escolher seu
destino... Está tudo escrito".
Quando a mulher de Abu Saadeh decidiu, num dia
chuvoso, ir ao vilarejo vizinho de Abu Amha para dedicar votos na Igreja de São
Jorge, o tio Abu Saadeh não a impediu, dizendo "Deixe-a ir. Ela terá o que
quer que seja que o destino decidiu para ela".
Não tendo ela retornado após o crepúsculo, meu tio
não saiu a sua procura, mas confessou sua preocupação de que "Talvez ela
tenha sido presa para Abu Amer, a hiena".
Finalmente ela retornou, completamente encharcada,
para nos contar sua dramática Aventura sobre como havia sido seguida o caminho
todo, à distância, por Abu Amer. Estava convencida de que a hiena não se
aproximaria pois "Mar Jiryus – São Jorge – a protegia desde a igreja aos
degraus de sua casa”.
Desde então, a imagem de São Jorge cintila em nossa
imaginação. Desde a infância nós acreditamos em seu poder, nosso próprio protetor
contra todo mal: hienas, ladrões e maus olhos – ele era nosso patrono.
Anos depois, quando a guerra civil estourou e
chegou a Mina Al Hosn, todos os hoteis, inclusive o de São Jorge, foram
convertidos em baricadas.
Um dia eu fui visitar um amigo que vivia nessa
área. Após cumprimentá-lo entre o barulho de canhões e foguetes, ele me olhou e
disse sarcasticamente: “Parece que essa batalha é entre São Jorge de um lado e
Al Khadr de outro".
No dia seguinte, eu vi fumaça vindo da area e fui
checar meu amigo. Após muito tempo eu o encontrei sentado com seus parente e
amigos no porão de uma velha casa. Então perguntei: "Digam-e meu amigo…
quem venceu a batalha, São Jorge ou Al Khadr?" *
"Infelizmente o dragão"- respondeu ele
entre os escombros.
São Jorge (Mar Jiryus em árabe) também
conhecido, tanto entre cristão quanto entre muçulmanos, como Al Khadr – “o grande”
– foi na verdade um libanês que viveu em Mina Al Hosn , em Beirute, no mesmo
lugar onde o Hotel São Jorge foi construído.
Naquela época um dragão costumava
aterrorizar os habitants da cidade periodicamente. O povo implorava ao
governante para que cedesse à demanda da criatura para que entregasse sua filha
como preço para a liberdade da cidade.
A princesa seria sacrificada em
Bab As Serail, o portão leste da cidade. Mas São Jorge a resgatou e matou o
dragão próximo ao golfo que, até hoje, leva seu nome.
Por essa razão, São Jorge ou Al
Khadr, é considerado o único santo nacional para todos os cidadãos de Beirute,
tanto cristãos quanto muçulmanos.
A chave
para a adoção de São Jorge pelos ingleses é o cirstianismo e a presence cruzada
na região.
Comumente, crê-se que São Jorge
nasceu em Lydda, Palestina, e atingiu a alta patente do exército romano no qual
serviu na Britânia. Tendo se tornado um cristão distinto, foi martirizado sob
Diocleciano, em 23 de abril de 203 d.C. Dia ainda celebrado na Inglaterra como
o dia de São Jorge após Eduardo III tê-lo proclamado santo padroeiro.
Mas não foi até o quarto século
d.C que o primeiro monumento em honra ao mártir surgiu, tendo sido erigido no Líbano.
A mãe de Constantino, o primeiro
imperador cristão, erigiu uma pequena coluna de marmore branco numa antiga
capela Bizantina, no local onde o dragão foi morto.
Os cruzados construíram uma
capela maior, transformada em mesquite em 1661. Agora a mesquita de Al Khadr
ainda mantem as ruínas da capela cruzada do século XII.
Salam al Rassi. An Naas Bin
Naas
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