domingo, 14 de outubro de 2012

Beirute reivindica seu único santo padroeiro



"No dia 23 de abril de todo ano, os ingleses celebram o dia dedicado a seu santo padroeiro. Mas o verdadeiro São Jorge viveu em Beirute, onde o dragão foi morto. Esse extrato do livro mostra que a figura lendária ainda é parte da vida do povo libanês".

Meu tio Makhoul não acreditava em destino. Costumava sempre dizer: "Um homem pode sempre colher o que plantar”; enquanto meu outro tio, Abu Saadeh, declarava que "O homem não pode escolher seu destino... Está tudo escrito".

Quando a mulher de Abu Saadeh decidiu, num dia chuvoso, ir ao vilarejo vizinho de Abu Amha para dedicar votos na Igreja de São Jorge, o tio Abu Saadeh não a impediu, dizendo "Deixe-a ir. Ela terá o que quer que seja que o destino decidiu para ela".

Não tendo ela retornado após o crepúsculo, meu tio não saiu a sua procura, mas confessou sua preocupação de que "Talvez ela tenha sido presa para Abu Amer, a hiena".

Finalmente ela retornou, completamente encharcada, para nos contar sua dramática Aventura sobre como havia sido seguida o caminho todo, à distância, por Abu Amer. Estava convencida de que a hiena não se aproximaria pois "Mar Jiryus – São Jorge – a protegia desde a igreja aos degraus de sua casa”.

Desde então, a imagem de São Jorge cintila em nossa imaginação. Desde a infância nós acreditamos em seu poder, nosso próprio protetor contra todo mal: hienas, ladrões e maus olhos – ele era nosso patrono.

Anos depois, quando a guerra civil estourou e chegou a Mina Al Hosn, todos os hoteis, inclusive o de São Jorge, foram convertidos em baricadas.

Um dia eu fui visitar um amigo que vivia nessa área. Após cumprimentá-lo entre o barulho de canhões e foguetes, ele me olhou e disse sarcasticamente: “Parece que essa batalha é entre São Jorge de um lado e Al Khadr de outro".

No dia seguinte, eu vi fumaça vindo da area e fui checar meu amigo. Após muito tempo eu o encontrei sentado com seus parente e amigos no porão de uma velha casa. Então perguntei: "Digam-e meu amigo… quem venceu a batalha, São Jorge ou Al Khadr?" *

"Infelizmente o dragão"- respondeu ele entre os escombros.

São Jorge (Mar Jiryus em árabe) também conhecido, tanto entre cristão quanto entre muçulmanos, como Al Khadr – “o grande” – foi na verdade um libanês que viveu em Mina Al Hosn , em Beirute, no mesmo lugar onde o Hotel São Jorge foi construído.
Naquela época um dragão costumava aterrorizar os habitants da cidade periodicamente. O povo implorava ao governante para que cedesse à demanda da criatura para que entregasse sua filha como preço para a liberdade da cidade.
A princesa seria sacrificada em Bab As Serail, o portão leste da cidade. Mas São Jorge a resgatou e matou o dragão próximo ao golfo que, até hoje, leva seu nome.
Por essa razão, São Jorge ou Al Khadr, é considerado o único santo nacional para todos os cidadãos de Beirute, tanto cristãos quanto muçulmanos.
A chave para a adoção de São Jorge pelos ingleses é o cirstianismo e a presence cruzada na região.
Comumente, crê-se que São Jorge nasceu em Lydda, Palestina, e atingiu a alta patente do exército romano no qual serviu na Britânia. Tendo se tornado um cristão distinto, foi martirizado sob Diocleciano, em 23 de abril de 203 d.C. Dia ainda celebrado na Inglaterra como o dia de São Jorge após Eduardo III tê-lo proclamado santo padroeiro.
Mas não foi até o quarto século d.C que o primeiro monumento em honra ao mártir surgiu, tendo sido erigido no Líbano.
A mãe de Constantino, o primeiro imperador cristão, erigiu uma pequena coluna de marmore branco numa antiga capela Bizantina, no local onde o dragão foi morto.
Os cruzados construíram uma capela maior, transformada em mesquite em 1661. Agora a mesquita de Al Khadr ainda mantem as ruínas da capela cruzada do século XII.
 
Salam al Rassi. An Naas Bin Naas

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