terça-feira, 3 de julho de 2012

Manifesto


Encontrado numa folha amassada num albergue da juventude, o manuscrito com certeza escrito por alunos brasileiros, foi passado a um ex-aluno da PUC-SP - atualmente desempregado - por um traficante marroquino em Paris. Certos trechos estão rasurados e ilegíveis. Além disso, o manifesto dá indícios de uma continuação, provavelmente perdida, dado que conta o estudante, que ele e o traficante marroquino usaram - pelo pouco que ele se lembra - a folha anexada para bolar um baseado.

"Somos herdeiros diretos da Revolução Neolítica, da Reforma Protestante, da Comuna de Paris, Revolução de Outubro, Primavera de Praga, Maio de 68, Woodstock, Diretas [rasurado]; contemporâneos dos irmãos árabes em sua primavera. Esta herança se expressa diretamente nas ricas manifestações culturais de alto teor político-engajado-reivindicatório de corrente estrutural-estruturante-estruturada como o [um longo trecho rasurado se segue, possivelmente citando outros movimentos populares] e os diversos maracatus de baque-virado da Vila [nome ilegível], berço do samba; vagamos por muito tempo no limbo dos não-lugares, do não-pertencimento e não acolhimento, por parte da sociedade, de nosso devir revolucionário-insurgente consequencia de nossa vontade de potência..

Por muito tempo ficamos à mercê do autoritarismo superegóico encarnado na figura paterna, recorrendo somente ao seio maternal em sua essência edípica. Hoje, o clarão da aurora resplandece no horizonte.

Nossa luta, que emerge do próprio seio da luta de classes, reivindica o alto e bom som dos estudantes, secretários e faxineiros. E reivindicamos esse direito inalienável de gritarmos e nos expressarmos enquanto tais: estudantes, secretários e faxineiros. É nossa postura de únicos-proprietários que nos permite ultrapassar a barreira das classes e suprir o emprego dos trabalhadores garantindo bitucas e latas de cervejas vazias suficientes, atitude límpida e branda reprimida duramente pela reitoria, aparelho opressor, moralista e católico.

Não nos curvamos! Como o Messias que chega pela porta estreita para a redenção do Homem e também tal qual a nobre fênix, renascemos das cinzas de nossos baseados para acusar, delatar, apontar com o dedo em riste, a hipocrisisa de todos os anti-democráticos, os que querem punir, cercear, policiar; todos os que dizem que não concordam com a nobre e justa não-causa de nossa geração, e nos impedem de tornar nossas vidas grandes obras de arte e grandes narrativas.

Adotando autogestionariamente – pois a autogestão é a gestão do único – uma postura insurgente-revolucionária, lutamos por uma universidade pública e intempestiva, fechada aos fascistas, aberta aos que lutam pelo Bem, pela Vontade, pelos devires, pelos desvios, pela diferença, ainda que a realidade mostre que somos todos cada vez mais iguais

Filhos [rasurado] do mundo, uni-vos!"

O manuscrito se interrompe aqui.

Um comentário:

  1. Muito inspirador...
    Com certeza um tapa na face daqueles que não pulam!

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