domingo, 20 de fevereiro de 2011

Sobre o Conceito de História

A segunda tese de Walter Benjamin:

"Pertence às mais notáveis particularidades do espírito humano, [...] ao lado de tanto egoísmo no indivíduo, a ausência geral de inveja de cada presente em face do seu futuro", diz Lotze. Essa reflexão leva a reconhecer que a imagem da felicidade que cultivamos está inteiramente tingida pelo tempo a que, uma vez por todas, nos remeteu o decurso de nossa existência. Felicidade que poderia despertar inveja em nós existe tão-somente no ar que respiramos, com os homens com quem teríamos podido conversar, com as mulheres que poderiam ter-se dado a nós. Em outras palavras, na representação da felicidade vibra conjuntamente, inalienável, a [representação] da redenção. Com a representação do passado, que a História toma por sua causa, passa-se o mesmo. O passado leva consigo um índice secreto pelo qual ele é remetido à redenção. Não nos afaga, pois, levemente um sopro de ar que envolveu os que nos precederam? Não ressoa nas vozes a que damos ouvidos um eco das que estão, agora, caladas? E as mulheres que cortejamos não têm irmãs que jamais conheceram? Se assim é, um encontro secreto está então marcado entre as gerações passadas e a nossa. Então fomos esperados sobre a terra. Então nos foi dad, assim como a cada geração que nos poceder, uma fraca força messiânica, à qual o passado tem pretensão. Essa pretensão não pode ser descartada sem custo. O materialista histórico sabe disso".

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Primeiramente trata-se aqui de uma redenção que ultrapassa o limite individual, consolidando-se como redenção coletiva, por meio da história. A vontade de compreendê-la (a História), seria algo possibilitado por essa fraca formça messiânica presente naqueles que detém tal vontade. Força essa à qual o passado tem pretensão. Seria possível falar então, talvez, de uma "Vontade de História", ela mesma histórica, pois constituída naquelas "vozes a que damos ouvidos", ecos das vozes hoje calada. Essa vontade resume-se, exprime-se e realiza-se somente no agora, no presente que trás para si o passado; no agora, no Jetztzeit. É ele, o tempo de agora, o agora da cognoscibilidade talvez - trazendo a referência do trabalho das Passagens - o instante do despertar, no qual o sonho ainda se nos vem à memória, na forma de suas imagens. O  materialista sabe disso, pois ao invés de "passar (vertreiben) o tempo, convida-o (einladen) para entrar, carregando-se (laden) de tempo como uma bateria armazena energia (lädt): o flâneur", que devolve o tempo sob outra forma: aquela da espera.

Hipótese: para que o materialista realize a História, é necessária tê-la como espera. Espera da atualidade.

cf: [D 2a, 2]; [D3,4]; [D 10a, 2] e [K 1a, 2] das Passagens

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