quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Independência Filosófica

Uma idéia me surgiu assim um pouco de repente, involuntariamente. Me parece que, para que os falantes da língua portuguesa ou ainda o pensamento de língua portuguesa, consiga uma independência filosófica, uma certa identidade filosófica, melhor dizendo, algo que o caracterize enquanto tal, que o localize e o determine em características próprias, ele precisa de uma "teoria da saudade". Em tempos em que nossa língua silencia sobre seu próprio definhamento frente a galicismos e anglicismos, caminhamos para uma resposta fatal à pergunta feita por Camões na ficção de Saramago. Antes que seja tarde demais, antes que nos expropriem essa palavra que só nós podemos entender - alguns dicionários espanhóis já a adotaram - precisamos caminhar um pouco em relação a ela, aprofundá-la. Os portugueses com certeza dirão que isso é impossível pois não há como explicar a saudade, somente sentí-la. Que não a aprofundemos então para explicá-la, mas para, de algum modo, e não necessariamente de forma explícita, fundamentar, tendo-a como base, aquilo que se pensa neste sentimento único. Caso contrário, parece que caminhamos numa direção na qual em alguns anos, a saudade só constará nos dicionários de uma língua morta. Se ainda a saudade vivesse um dia como saudade, ela resistiria, mas, quando se esquece a palavra, é difícil lembrar seu significado. Ainda mais quando esse significado é somente sentido, e não racionalizado.

"Saudade" - de Lucas Armendani

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