quinta-feira, 13 de junho de 2013

Insatisfação, Revolução e Medo

Triste da terra que precisa de herois, de fato!
De que serve escrever pelos muros que o Estado é violento e esperar, por outro lado, que o Estado endosse as opiniões populares (que não são exatamente 'do povo'). Embora sejamos roubados a cada instante, a indignação geral do momento não tem e não deve ter nada a ver com um aumento de 20 centavos.
Há coisas que vem antes, mais importantes. Coisas maiores.
O que fica é a impressão de que, por mais justa que seja, essa reivindicação esconde a silenciosa cumplicidade e outorga de legitimidade ao poder do Estado. O movimento que tem tomado conta das ruas de São Paulo nos últimos dias se parece - não pela manifestação efetiva, mas pelo discurso - mais como uma birra adolescente do que com uma "tomada de poder" como certas vezes se vê em mídias sociais. É uma cumplicidade pelo clamor de que o Estado nos geste e tome conta. 
"Você, Estado, não está cumprindo seu papel. Tome conta de nós! Afinal, é por isso que pagamos nossos impostos!".
Ao mesmo tempo, o grito é de que o Estado deve ter seu poder cerceado. Se o problema é realmente o que se diz ser, a questão de fato não é o aumento no preço do transporte público, mas um descontentamento geral com o modo como nossa sociedade como um todo vêm se organizando.
Claro, tem que ir pra rua, tem que bater e tem que apanhar. Mas sem glorificação. Essa glorificação da indignação, da chegada da revolução, esse típico Sebastianismo brasileiro, tira as coisas de foco. É preciso fazer o que é preciso fazer e não transformar isso numa luta de vencidos contra vencedores. Não estamos escrevendo a história à contrapelo.
Não é só o preço do transporte que é absurdo; é o preço do tomate, o preço de um livro, de uma peça de roupa, o preço do leite da criança, da merenda escolar.
O problema é o seguinte. Isso a que andam chamando de "manifestação popular" tem um caráter outro que "popular". Quem incitou às manifestações - e repito, acho as manifestações a princípio corretas - foram os jovens "ilustrados", universitários e de classe média sim. Em tempos idos ao menos a esquerda admitia a necessidade de uma vanguarda do partido. Se é para ser do modo que está sendo. É preciso primeiro mudar o foco da manifestação e segundo, admitir que essa manifestação tem um viés ideológico e assume o pressuposto de uma vanguarda de jovens intelectuais.
Do contrário, isso passará para a história simplesmente como um episódio de descontentamento burguês.
E não adianta falar de Istambul ou de Londres. Não somos Istambul nem Londres. Somos São Paulo, somos Rio de Janeiro, somos do Brasil e estamos tratando - ao menos em teoria - do Brasil que queremos.
Se for pra fazer revolução, façam revolução! Admitam! Peguem em armas. Mesmo! Põe fogo em tudo.
E não recorram ao seu Estado social-democrata, burguês e burocrata, para pedir justiça aos pobres inocentes presos. Se é pra por fogo, é pra correr o risco de ter fogo posto no que é seu!
Os revolucionários indóceis sabiam disso. Foi assim que revolucionaram.

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