quarta-feira, 16 de março de 2011

O Fantasma da Multidão


Scracth board de Lucas Armendani
Naquela época, quando os miasmas dominavam as cidades, as epidemias se instauravam rapidamente. Os sintomas eram: diarréia, desidratação, febre, falta de apetite e manchas escuras pelo corpo.
Costumava-se marcar com giz as portas das casas contaminadas, para que se soubesse em que parte das pequenas metrópoles se podia caminhar, ou para saber que trajeto fazer na volta à casa.

Quando Jean-Jacques Fournier, entretanto, no começo de 1848, perdeu os irmãos e a mulher, ele começou não só a produzir bombas em casa, como a marcar a giz, ironicamente, a casa dos burgueses que explodiriam. Com aquela cruz, eles voltariam à paz divina para a qual enviavam o sem número de proletários que adoeciam após horas de trabalhos mecânicos nas fábricas.

No fundo, Fournier era só mais um homem na multidão. Por isso podia caminhar como mais um na cidade que, para ele, não era mais do que uma fantasmagoria. Há muito tempo ele colecionava a fisionomia da cidade em que morava  e em pouco tempo, suas bombas começaram a ser lançadas.

Cada bomba, cada punhalada, vinha acompanhada pela marca da cruz na porta dos mortos.

Isto se conta na minha família. E diz-se que é história real.

A cidade era Paris.

O ano era 1848.

Nenhum comentário:

Postar um comentário