quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Amália

"Triste, porém bem disposta". Amália costumava definir-se desse modo. Definiu assim, aquilo que aprece correer desde tempos imemoriais no sangue português. Nos fados, sejam eles malandros ou não, semrpe paira no ar essa aura de tristeza que se sabe triste. A saudade, provavelmente o maior legado da língua de Camões, nos invade e, cantar um fado, do tipo que seja, não é mais do que cantar a saudade que existe em nós. Saudade essa que não é mais do que uma tristeza que se sabe triste e, por isso mesmo, uma tristeza que no impulsiona aseguir em frente. Embora o sentimento nos remeta sempre ao que já passou, a instantes que permanecem em nós só na memória, ela supera a mera melancolia, porque a saudade não pretende reencontrar tempos perdidos, mas mantê-los vivos exatamente como memória.
Assim, não pretendo reviver nossa história, a saudade sabendo-se memória de algo irrepetível ou inacessível, existe somente em relação a coisas verdadeiramente significantes. Só sentimos saudades daquilo que amamos, e só amamos aquilo que nos dá saudade.
Por isso, saber-se memória, ainda que nos prenda ao passado, nos impele a seguir adiante. Saber que não se pode reviver o passado, mas somente ansiar por ele, nos leva a seguri adiante saudosamente.
Amália resumiu assim, não só a si mesma, mas a um certo lusianismo. A todos aqueles que conhecem essa tristeza bem disposta que é a saudade; essa tristeza que não pretende ser mais do que um resquício do que foi. Isso é o que Amália cantava em seus fados, que bem poderiam ser sambas...

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