domingo, 17 de outubro de 2010

Ciências Sociais e Cultura Política

O que me cansa nos cientistas sociais, intelectuais de nossa época, junto com economistas e psicólogos, é que eles têm a irritante mania de achar que levam as coisas a sério, tendo sempre que tomar partido, que proferir palavras de ordem. A cegueira a que são levados por não conseguirem se encontrar dentro de seus próprios campos - pois conhecem os problemas do cientificismo, mas estão cientes de sua incapacidade de filosofar - os leva a uma profissão de fé maniqueísta: "quem não está comigo está contra mim". Porque no fundo, baseiam suas pesquisas em suas crenças.
Esse maniqueísmo é comum na cultura política brasileira: a esquerda "militante" - infelizmente a que ficou respnsável por contar a história de quem desapareceu - filha do partidão, com suas concepções "realistas" da velha URSS; e a direita reacionária, religiosa e imbecil. Uma e outra são iguais, salvo nomes e "classe social". Nas ciências sociais, resta saber em quais dos grupos você se encaixa, em quê você acredita... A velha tradição crítica da qual Florestan foi um dos precursores, morreu, englobada pelos discursos políticos. A situação dos pensadores da sociedade, esta situação embutida de religiosidade, é reflexo também daquilo que o ensino no Brasil se tornou, e de até que ponto a política é usada como dispositivo não para o controle, mas antes, para algo que dispense o controle, algo que torne o próprio controle desnecessário, um dispositivo que injeta uma auto-regulação nas pessoas.
A política é séria, claro, mas não dessa forma, não por partidos, não por discursos, não por campanhas. No fim, não deve importar "no que se acredita", mas, enfim, somos nós, cientistas sociais, psicólogos, economistas os grandes intelectuais que fazemos essa discussão, que alimentamos essa cultura política da crença em ideologias. Talvez sejamos nós o grande problema.

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