terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Rodas de Samba

Tenho lido uma ótima pesquisa de uma amiga sobre rodas de samba. Em certo ponto do texto, nos deparamos com duas idéias contrapostas: uma por parte de Jean Duvignaud que caracteriza a festa como uma quebra de cotidiano, capaz de despertar e animar os sentidos; e outra, de Norberto Luiz Guarinello que entende a festa não como uma realidade oposta ao cotidiano, mas como parte de sua estrutura, sendo o cotidiano compreendido como o espaço e o tempo concreto das realizações sociais.
Eu tendo para esta segunda concepção. A meu ver, a festa faz parte do cotidiano sim, mas devemos lembrar que, submetida à lógica do trabalho, ela pode facilmente ser o bode expiatório da ideologia, o mecanismo de diversão aparente que é o lazer. É a fórmula manjada porém real de que "o lazer é somente o tempo em que descansamos para voltar a trabalhar", tão criticado pelos defensores da dita "cultura" como expressão mais íntima e verdadeira da coletividade. A verdade é que a festa, ainda que possa ser usada ideologicamente, oferece grandes possibilidades. As letras das rodas de samba, o clima de identidade, o momento que nos propicia a possibilidade de nos vermos no outro só potencializa algo que está presente no cotidiano, no dia-a-dia mais corriqueiro.
A festa, não qualquer festa, mas a roda de samba com certeza, me faz lembrar algo presente no "18 Brumário" de Marx, no qual ele apresenta nas primeiras linhas as leis da dialética. A roda de samba me faz lembrar que os homens fazem sua própria história mesmo sem o saber e mesmo que, sabendo-o, não a faça necessariamente como queira. Ou seja, esta festa, este samba, propicia um momento libertador. Basta que olhemos atentamente... as possiblidades se apresentam na nossa frente no compasso de um surdo. A tomada de consciência vem no intervalo da síncopa.

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