quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A questão israelense

Essa semana o Estado de Israel aprovou a construção de 900 assentamentos em Jerusalém Oriental. Mais uma vez, este Estado desafiou as leis internacionais, tanto relativas ao Acordo de Oslo, quanto relativas ao plano Mapa de Estrada. Tudo em nome de sua soberania. Pelo menos, espera-se que seja em nome de sua soberania, porque o sionismo do Estado israelense chegou a tal ponto que não impressiona mais a idéia de que o que se pretenda na região seja uma limpeza étnica.
Como disse Primo Levi, ele mesmo judeu, cada povo tem o seu judeu, o dos judeus é o povo palestino. O que se faz em Israel contra os palestinos, é um massacre, algo digno de campos de concentração. O sionismo sobre o qual Israel se funda é um nazismo tanto quanto é um nazismo qualquer forma de nacionalismo radical. Já Adorno nos diz isso em "Educação Após Auschwitz". Por sinal, a tese central deste texto, é a de que a função da educação seja a de impedri que Auschwitz se repita. Já vivemos a barbárie e o que devemos aprender com ela é, como diz Benjamin, criar algo a partir do nada. Ela nos impele a começar de novo, ou pelo menos, deveria.
Mas o que vivemos efetivamente é que se a história se realiza a primeira vez como farsa, ela se repete como tragédia.
Há mais motivos para crer que o que se passa no Oriente Médio seja uma tentativa de limpeza étnica. Israel tem desde sempre demonstrado ódio contra os árabes. Ódio recíproco, é verdade, e infudado de ambas as partes, mas Israel fundamenta seu ódio aos árabes por providência divina. Eles, o povo escolhido, tem, por escolha de Deus, a posse da região. Usam como pretexto a desculpa religiosa de que se não tiverem um Estado não poderão nunca ser um povo. A luta dos palestinos é por um Estado que lhes foi tomado. É a luta para que se efetive o discurso das grande potências de que todos devem ter direito a comida, educação, moradia. Os palestinos lutam por uma terra deles porque sem esta terra, que lhes foi tomada e que pertence tanto aos israelenses queanto aos palestinos, não podem sobreviver.
A reivindicação de um Estado para os palestinos não é uma reivindicação cultural ou religiosa. É uma reivindicação por direitos básicos que deveriam são reconhecidos por todas as instâncias internacionais e que Israel teima em desobedecer. Tanto não é racial, religiosa ou cultural, que há parcelas do mundo árabe que são pró-Israel, como so maronitas libaneses.
Um árabe não precisa de Estado para ser árabe e é aí que as coisas se diferenciam muito. Não é uma briga de supremacia racial esta que os palestinos lutam. Um árabe será sempre um árabe porque seus pais eram árabes, porque seus filhos serão árabes, porque sua língua é o árabe. Porque isto corre em seu sangue e isto é sua história. Isso foi o que tanto admirou Sir Mark Allen, linguista e estudioso da cultura britânico. Israel, por outro lado, insiste na questão da raça, na pureza de seus filhos frente aos ismaelitas.
David Grossman, escritor israelense escreveu muito coerentemente: "Temos dezenas de bombas atômicas, tanques e aviões. Enfrentamos pessoas que não possuem nenhuma dessas armas. Mas continuamos nos sentindo vítimas. Essa incapacidade de nos vermos em relação aos outros é a nossa principal fraqueza".
E de fato, Israel tem demonstrado uma enorme incapacidade de se colocar no lugar dos outros. Há uma banalidade na postura de Israel. Tudo é justificável porque eles ainda são as vítimas. Vítimas de tudo, do holocausto, dos árabes... A insistência em transformar a história em tabu transformou as vítimas em vilões.
Por enquanto consideremos somento o Estado de Israel um Estado terrorista e nazista... esperemos um pouco mais antes de afirmar que assim, como os alemães, o povo de Israel tem uma cumplicidade arraigada em si. Muitas são as manifestações de judeus contra o próprio Estado. Eles sabem-se certos... Auschwitz não pode se repetir.

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