terça-feira, 9 de junho de 2009

Vozes

Pessoa não fez mais do que dar voz aos inúmeros 'eus' que habitam em cada um. Na verdade, Caeiro, Reis, Campos ou Soares não são outros que habitam em nós, mas o pouco de nós que habita em outros e que se confluem para dar forma àquele 'yo' de Unamuno; o 'yo de carne y hueso'. Não o eu do nome, da memória ou da razão. Simplesmente, 'yo'.
Não à toa Saramago nos diz que "dentro de nós tem uma coisa que não tem nome". Os heterônimos de Pessoa constituem a tentativa frustrada de captar o inominável que nos habita, o lugar perdido da linguagem original na qual não precisávamos nos desdobrar para ter qualquer tipo de experiência. Talvez, assim como Baudelaire, que deu à sua vivência o peso de uma experiência verdadeira, pois mostrou que não há mais experiência possível, só aquela de estar sujeito às mesmas vivências cotidianas, Pessoa tenha mostrado pela sua poesia, pelo esfacelamento de seu 'eu' em vários compartimentos (a divisão entre conhecimento e alma é o que constitui o sujeito moderno), a extinção do local da experiência verdadeira.

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