segunda-feira, 15 de novembro de 2010

O colono penal

No sonho, à la Fanz Biberkopf eu havia sido jogado de um carro - se pelos mesmos motivos, não sei dizer - mas ao invés de perder um braço, perdera os movimentos das pernas, tornara-me paraplégico. Além disso, fui condenado a cumprir pena em alguma prisão, cujo pátio era projetado como os pátios escolares do ensno primário; acredito realmente que fosse o pátio do próprio colégio onde eu havia feito o ensino primário.
No canto esquerdo do pátio, uma engrenagem grande, muito larga e comprida, de cerca de 15 metros por 15 metros, como uma quadra de basquete quadrada. Mas ao invés de piso de madeira, lâminas e roscas que iam e vinham. Parece que eram a parte externa superior de uma máquina cuja finalidade e mesmo a aparência todos desconheciam. Mas, por causa da cadeira de rodas, eu era o único que podia me instalar na máquina, o único que podiapassar por cima dela sem se machucar. Eu era o estado de exceção do mecanismo carniceiro que havia matado tantos - seja por descuido seja como consequência de brigas dos detentos. E tanto era que eu passei a usar a máquina para me exercitar, treinar os braços e os reflexos, desviando das lâminas que subiam, mesmo sabendo que não me acertariam, e apostando corrida com aquelas que corriam de um canto a outro do complexo maquinário.
Os poucos conhecidos que fizera, uma mulher quase idosa, uma adolescente - cujos rostos me fogem da memória - e dois homens cujos rostos nunca cheguei a ver, me observavam queando eu me exercitava e me lembro que ríamos prazerosamente quando eu encerrava minahs sessões. Estranhamente, eu pensava só havermos nós presos ali.
No fim do dia, um rabino tentava me doutrinar, falando dos mistérios de Deus e da necessidade de aceitação do que Ele nos reservava. No começo, o rabino possuía fartas barba e cabeleira ruivas, que acabaram dando lugar à calvície, que fez surgirem rugas profundas que quase escondiam seus olhos.
No fim do sonho, enquanto o rabino gritava, a única coisa que eu me lembro era de olhar para uma moça morena sentada ao meu lado, assustada e eu também, assustado, pois ela trazia flores no cabelo, um vestido rendado e eu soube que a máquina a devoraria...

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