O Sheik Abu
Ali Sayyagha era um dos homens mais respeitados de seus dias. Ele era capaz de,
quando fosse que encontrasse alguém pela primeira vez, adivinhar que tipo de
pessoa esse alguém era: estúpido ou esperto, generoso ou avaro, honesto ou não.
Simplesmente mirando os rostos, uma ciência naquele tempo conhecida como
fisiognomia.
Antes que
carros fossem feitos, o Sheikh se encontrava um dia viajando a pé de Hasbayya a
Jdeidet Marjeyoun (Sul do Líbano).
Quando ele
atingiu a intersecção de Souq El Khan, o Sheikh encontrou um homem montando um
burro indo na
mesma direção. Quando o homem se aproximou dele, o Sheikh mirou sua face e disse
a si mesmo: “Eu não gosto dele... não é um homem honesto”. O homem desmontou de
seu burro, correu em direção ao Sheikh e perguntou: “Para onde te diriges?”.
“Jdeidet
Marjeyoun”, respondeu o Sheikh. O homem disse, então, em bom som: “Que sorte
tenho eu. Também para aí me dirijo”. E então insistiu para que o Sheikh
montasse no burro. O Sheikh hesitou e pensou por um momento: “Como pode tão
nobre gesto vir de alguém que me parece de tal modo desonesto?”. E pensando
isso ele olhou novamente para o homem somente para ver sinais da desonestidade
em seu rosto.
O Sheikh se
desculpou de uma forma gentil dizendo: “Não, obrigado... Mas eu prefiro
caminhar”. Mas o homem insistiu: “É impossível que caminhes enquanto eu monto” –
e disse mais – “Alguém que conhecemos
pode passar por nós e se impressionar com quão rude e grosseiro eu seria. Não,
não, deves montar, eu insisto”.
O Sheikh
finalmente montou o burro, apesar de sua vontade. Toda vez que ele parava e
ameaçava desmontar, o homem se punha em seu caminho ameaçando rasgar o abdômen
do burro com sua adaga.
Durante o
percurso o homem tagarelava sobre sua devoção e respeito aos homens do clero,
algo que começou a preocupar o Sheikh ainda mais: “A mim esse homem me parece infernal,
mas seu comportamento me mostra que ele é um homem de honra. Acredito que eu
tenha um problema aqui. Talvez eu precise reconsiderar, de agora em diante, a
maneira que eu julgo as pessoas. Se meu julgamento deste homem estiver errado,
então talvez eu tenha julgado mal outros… e esse é um problema sério porque
então, eu talvez perca a confiança das pessoas em mim”.
Chegando em
Jdeidet Marjeyoun, o Sheikh desmontou do burro e foi-se embora…
Salam Al Rassi |
O Sheikh fitou o rosto de homem
e lhe disse: “Escutai, meu amigo. Somente a verdade prevalece no fim. Eu sabia
que tipo de pessoa és desde a primeira vez fitei vosso rosto, mas me
preocupaste sobre o modo que leio as pessoas...” – e continuou – “Aqui está um
Majidi completo e estou muito feliz que eu não estava enganado a vosso respeito”.
Salam Al Rassi. Li-alla Tadhi
(Ainda que se percam).
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