Eu trabalhei por vinte anos como
empregado em diversos departamentos governamentais no Líbano. Durante este
tempo, eu nunca recebi um sinal de apreciação ou prêmio, ou mesmo uma promoção
simplesmente porque eu me recusei a ser um protégé
de um governante ou homem do clero.
Eu segui o conselho de meu tio, que
costumava alugar burros (mkari), e
sempre dizia: “Não ate seu cabresto na manjedoura de políticos, pois uma vez
que você o faça, eles o considerarão fraco”.
Como eu não possuía nenhuma
conexão com gente influente, eu costumava carregar não só o fardo do meu
trabalho, mas também daqueles que eram mais altos do que eu em status, ainda
que muito menos inteligentes.
Eu descobri que alguns empregados
civis do governo não assumem qualquer responsabilidade uma vez que se
consideram os verdadeiros “filhos do governo”. Diferentemente do resto dos
oficiais e empregados, eles costumavam trabalhar de acordo com a regra que diz:
“Ao invés de resolver um problema, passe para outra pessoa, até que Deus dê
conta”.
Entretanto, eu costumava me
consolar toda vez que me lembrava das palavras das velhas pessoas que na minha
cidade costumavam repetir: “Uma pessoa digna deve ser como o sempre verde
carvalho que uma vez cresceu na praça de nosso vilarejo e costumava atrair o
gavião para o seu topo e os coelhos selvagens pastando em sua sombra”. Mas eu
me sentia e continuava a sentir-me triste toda vez que me lembrava de que forma
os turcos haviam cortado aquela árvore antes que fossem expulsos de nosso país
pouco depois da Primeira Guerra Mundial.
Um dia, um cidadão entrou em meu
escritório para perguntar sobre o destino de um arquivo, que me havia sido
enviado naquela mesma manhã de outro departamento. Enquanto lia, descobri que
havia sido passado de um oficial a outro vinte vezes. Foi surpreendente
descobrir que qualquer um dos oficiais poderia ter terminado a autorização e
salvo o pobre tipo de vinte viagens ao ministério.
Após ter escrito meus comentário
sobre a petição que eu havia datilografado, eu mesmo levei o documento à
instância maior, fiz com que fosse assinado, levei de volta à minha mesa,
registrei o documento no livro oficial e finalmente levei ao homem que esperava
e observava meus movimentos com surpresa.
Ele me agradeceu e, com sinais de
assombro em seu rosto, disse: “Posso lhe fazer uma pergunta?”.
“Claro” – eu disse.
“Eu gostaria de saber qual é seu
cargo aqui”.
“Sou pastor de burros” - eu
respondi .
“O que quer dizer com isso?
Não entendi” , perguntou o homem.
“Você tem tempo para ouvir uma
curta história?” – eu disse. “Sim, tenho todo o tempo” – ele respondeu.
Então eu contei a história:
“Uma vez, um homem procurou
refúgio numa tribo. O líder da tribo o acolheu e o apresentou ao restante do
clã.
‘Este é o Sheikh dos Árabes,
Hmaydan. E este é o líder da tribo Shiwan. E este é o príncipe de nosso povo,
Abu Swaydan’.
Então todos fitaram o homem e
perguntaram: ‘E vós, quem sóis?’
‘Eu sou o pastor de burros. Eu
soube que necessitavam de alguém que levasse vossos burros ao pastoreio...
então aqui estou eu’.
‘E como sabias que precisávamos de
alguém para pastorear nossos burros?’
‘Bem, se cada um de vós sois ou
Sheikh, ou líder, ou Príncipe, quem haverá para ser o pastor?’”
Quando eu terminei minha história
o homem olhou para mim e disse: “É verdade”. E emendou: “Quando o governo age
como uma tribo, com certeza precisa de alguém que leve os burros ao pasto...”.
AL RASSI, Salam. An-Naas Bin-Naas
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