Resta à filosofia, para que ela possua um lugar efetivo na história do nosso país, começar a trabalhar junto à história e à literatura. Cabe a ela um trabalho um tanto quanto arqueológico, de escavar e revelar os hábitos, os costumes, os pensamentos do povo brasileiro ao longo de sua história. Dir-se-á que a Sociologia ou a Antropologia e a própria História já fazem isso. Verdade. Mas ninguém melhor do que a filosofia para trazer à tona uma generalidade sobre as concepções de ética, moral, política que vigoraram nesse país, e de que forma elas podem ser pensadas hoje, na medida em que podem ou não se manter até os dias atuais.
A filosofia precisa, no Brasil, assumir o papel crítico que sempre foi característico da filosofia. Manter as verdades em suspenso. Analisar não se os jovens da periferia vêm se agrupando em movimentos culturais, mas pelo que eles vem se agrupando, e o que isso significa num contexto cultural amplo, e qual o significado que pode estar subjacente a isso.
A filosofia não deve se ater à exegese e à hermenêutica de filósofos antigos, como tem feito até agora. Ela deve citar, comentar. Não se curvar. Manter em constante atividade o pensar sobre a nossa realidade. Sistematizar de que forma algumas características históricas se desenvolveram; o que elas significam. Como, por exemplo, ainda hoje somos incapazes de diferenciar espaço público e privado?
Neste sentido, vemos que já´possuímos obras filosóficas magnas em nosso pensamento: Casa Grande & Senzala, Raízes do Brasil, Macunaíma, Grandes Sertões: Veredas.
O filósofo de uma filosofia brasileira tem uma tarefa árdua. Não deixar morrer as velhas obras e ao mesmo tempo trazer à tona o que há de mais nosso, de mais necessário e, atualmente, de mais escondido na cabeça do brasileiro.